O desfile da Vai-Vai no Carnaval de São Paulo rendeu, aparentemente, mais do que o oitavo lugar e a manutenção da tradicional agremiação da Bela Vista na elite da folia da cidade após dois rebaixamentos. Incomodou muita gente ligada à Polícia Militar de São Paulo, instituição sempre conhecida por pesar a mão contra o povo preto e pobre do estado.
O enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano” celebrou os 50 anos do movimento no Brasil, trazendo em suas alas expoentes do gênero, como Nelson Triunfo, Negra Li como Rainha de Bateria e em seu carro de som, Mano Brown, vocalista do histórico grupo de rap Racionais MC’s.
Uma ala, porém, incomodou especialmente os valorosos homens da PM paulista, sempre tão preocupada em manter uma boa imagem. A “Sobrevivendo no Inferno” fazia referência ao mais famoso álbum dos Racionais, lançado em 1997. A ala simbolizava agentes da Tropa de Choque da PM com chifres e asas vermelhas, representando demônios.
Isso foi o suficiente para o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) postar uma nota de repúdio dizendo que “Ao adotar tal enredo, a escola de samba, em nome do que chama de ‘arte’ e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública”. O sindicato também pediu uma retratação pública da escola.
A escola rebateu imediatamente a questão, afirmando que a ala “abordava um recorte histórico da década de 90, onde segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica”.
Essa “polêmica” criada pelos policiais parece ter motivado o jornal “Folha de S. Paulo” a fazer “jornalismo investigativo”, ao informar em matéria, de maneira bem irresponsável, que o ex-diretor da escola Beto Bela Vista, apontado pela polícia como um dos chefes da facção PCC (Primeiro Comando da Capital), emprestou 300 mil reais para a escola realizar seu desfile em 2022.
A matéria coloca em xeque até a compra do terreno da nova sede da escola, que foi retirada de seu eterno recanto no bairro da Bela Vista pela gestão tucana no governo de São Paulo para dar lugar à inacabável obra da Linha 6 do Metrô (que já está entregue à CCR, que costuma vencer muitas licitações em São Paulo, de maneira curiosa).
Essa ação de empréstimos é praxe em todas as escolas de São Paulo, algumas inclusive apadrinhadas por políticos da situação da prefeitura da capital paulista e do governo do estado, comandados pelos bolsonaristas e policialescos Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas, respectivamente. A própria escola postou uma nota contundente em defesa.
“Vai-Vai tem como premissa uma conduta ética e transparente e reitera sua total disposição em colaborar com as autoridades. Reforça ainda o seu compromisso com ações sociais e culturais como exímio representante da cultura paulistana, promovendo transformações sociais e fomentando a educação há 94 anos”, afirmou a escola.
A Vai-Vai curiosamente está sendo atacado por vereadores da ala bolsonarista da Câmara Municipal de São Paulo, que querem que a prefeitura suspenda o repasse que dá para as escolas de samba por meio da empresa SP Turis. Mas, conhecendo o Carnaval e as escolas de samba como conheço, acho que não seja uma boa ideia. A Vai-Vai é, de longe, a agremiação mais popular da cidade e dá muito voto. E a situação da direita policialesca na cidade não é tão boa quanto eles pensam.
Além de perder sua sede, a Vai-Vai amargou dois rebaixamentos estranhos no Carnaval paulistano desde 2019, em um ano em que curiosamente fez um enredo que questionava o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Apontar a violência policial, apoiada pelos governos Nunes e Tarcísio, incomoda muita gente. E parece que sufocar uma instituição tão importante interessa muita gente.
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