Por Leonardo Sakamoto
O que um líder de massas mais teme? Não é a prisão, mas o abandono por parte de seus seguidores, o que representaria sua morte em vida. Determinados assuntos têm mais potencial para afastar rebanhos dos seus pastores e, com isso, provocar reações imediatas para estancar o estouro da boiada – o uso do dinheiro é um deles, como vimos em dois exemplos recentes com Jair Bolsonaro e Silas Malafaia.
Investigado por enviar R$ 800 mil aos Estados Unidos para manter seu autoexílio por lá enquanto seu golpe de Estado se desenrolava por cá, o ex-presidente teve que vir a público, através de um vídeo, distribuído em suas redes sociais, para explicar aos seus seguidores que aquilo não era crime.
E após informar que os custos do ato pró-Bolsonaro, que será realizado em São Paulo, no dia 25 de fevereiro, seriam bancados por sua igreja, Malafaia voltou atrás e declarou que pagaria do seu próprio bolso o trio elétrico e demais gastos. Pegou mal nas redes sociais a possibilidade do dízimo dos fiéis ser usada diretamente para um evento político.
Bolsonaro e Malafaia são acusados diariamente de muita coisa, mas não vêm a público responder tudo. Com a ajuda de assessores e pessoas de confiança, analisam o que vale a pena ignorar, o que pode ser deixado para aliados e fãs reagirem e o que eles precisam pessoalmente responder.
Ser chamado de golpista não tira de Bolsonaro um mísero seguidor radical, o que é diferente de fugir do país, como fez em 30 de dezembro de 2022, e levar um dinheirão para o exterior. Coisa de gente rica, retratada como vilão em novela, bem diferente da imagem do homem simples, comedor de pão com leite condensado, que ele se esmerou em vender.
Claro que era uma construção, uma vez que ele, um político profissional, especializou-se em ficar rico dando à luz funcionários fantasmas nos gabinetes da família e ficando com parte de seu salário.
Tampouco chamar Malafaia de agressivo ou picareta reduz o número de seus seguidores, pelo contrário, arrisco dizer que isso até aumenta. Contudo, cristãos sabem, desde o Evangelho de Mateus, capítulo 22, versículo 21, que não pega muito bem desviar para César o que foi dado a Deus.
Não é à toa que, junto ao seu público religioso, o escândalo de desvio e venda de joias dadas por governo árabes ao Brasil, preocupou Bolsonaro e aliados. Não significa que esse grupo abandonou Jair por conta disso, até porque, para eles, não há uma outra opção política no horizonte. Contudo, pesquisas mostraram que eles se abstiveram de fazer uma defesa pública do “mito”.
A questão não é que esses líderes seriam abandonados por conta dessas ações, mas não contariam com a defesa incondicional de seus seguidores – que sentiram cheiro de queimado. Em uma realidade em que a disputa do sentido simbólico se dá através das redes sociais e aplicativos de mensagem, e para isso o engajamento da massa é fundamental, o silêncio é uma sentença.
Publicado originalmente no UOL