“A maior batalha é encontrar comida”, diz palestina sobre Gaza

Atualizado em 1 de março de 2024 às 20:13
Palestinos carregam sacos de farinha distribuídos em Gaza. Foto: Kosay Al Nemer/Reuters

Taghreed Rabee, de 27 anos, disse nesta sexta-feira (1º) que a maior batalha na Faixa de Gaza é encontrar comida. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a palestina contou que perdeu 15 kg desde o início da guerra.

“A maior batalha é encontrar comida. Se você acha o que comer em um dia, no dia seguinte não vai ter tanta sorte”, disse. “Meu marido passa a maior parte do dia procurando, dorme duas, três horas por noite e já acorda para procurar de novo. Não tem carros nem combustível em Gaza, então às vezes ele passa cinco horas caminhando e outras cinco horas numa fila para receber comida enlatada e pão”, acrescentou.

Em Rafah, ao sul de Gaza, ela vive com os dois filhos, o marido, Mohammed, e com a família da irmã, que também tem três crianças. A cidade abriga mais da metade da população palestina.

Com os ataques constantes e a entrada limitada de ajuda humanitária, mais de meio milhão de pessoas estão à beira da fome, segundo relatórios de agências da ONU.

A UNRWA, agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos, alertou que um quarto da população de Gaza enfrenta “níveis catastróficos de insegurança alimentar”. O comissário-geral da agência, Philippe Lazzarini, afirmou que Gaza está na iminência de uma fome provocada pelo homem.

Taghreed disse que, quando tem sorte, consegue comprar alguns legumes básicos, mas a preços exorbitantes. “Um quilo de tomate custa US$ 10 [cerca de R$ 50], um quilo de batata, US$ 12 [R$ 60]. Pagamos US$ 30 [R$ 150] por um frango congelado. Já esquecemos qual é o gosto de fruta”, relatou.

A falta de emprego e renda em Gaza agrava ainda mais a situação. “Não há emprego nenhum em Gaza, nenhuma renda. Se você tinha dinheiro guardado, está usando agora para comprar comida”, disse Taghreed.

“A nossa prioridade são os nossos filhos. Nós não temos importância, só o que queremos é que eles não saibam o que é a fome”, prosseguiu.

Taghreed contou ainda que não produz leite materno suficiente para a filha de cinco meses, Ivana, e que também não consegue encontrar o alimento em Gaza. “Ela nasceu duas semanas antes de a guerra começar”, relatou.

A palestina morava com a família nos arredores de Khan Yunis, perto da fronteira entre Gaza e Israel. Desde o início do conflito, ela já precisou fugir cinco vezes. Atualmente, Taghreed mora em uma barraca em um campo de refugiados na cidade.

Taghreed é irmã do brasileiro Hasan Rabee, que foi repatriado na primeira leva de cidadãos do país que foram resgatados de Gaza pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no dia 14 de novembro. Ela não tem cidadania brasileira, e diz que espera que Brasília possa tirá-los de lá em breve também.

“Não há vida em Gaza, e mesmo que a guerra termine, não vai haver vida. Não temos mais onde morar. Não há lugar seguro em Gaza”, declarou.

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