Pobre Deus.
Tanta coisa para cuidar do mundo – crianças que morrem de fome na África, que são estraçalhadas por bombas americanas no Oriente Médio etc – e o procurador Deltan Dallagnol ainda quer que ele tome conta da Lava Jato.
Nem Super-homem faria tanta coisa ao mesmo tempo.
Dallagnol, coordenador da Lava Jato, evocou Deus numa igreja batista no Rio de Janeiro, diante de 200 fieis.
Afirmou que Deus abriu uma “janela de oportunidade” para o combate à corrupção no Brasil.
Foi chamado pelos presentes de “servo” e “irmão”.
A defesa de Marcelo Odebrecht definiu a Lava Jato em termos bem menos solenes. Chamou-a de Reality Show, coisa mais para o Diabo do que para Deus.
A intervenção de Dallagnol numa igreja está mais para comédia do que para Reality Show.
Assim como a confusão entre Vaca, o bicho, e Vaccari, o tesoureiro do PT.
Não vai ser surpresa, diante de tamanha confusão e de erros, se o Brasil sair pior da Lava Jato do que entrou.
Parece não haver foco na apuração. Num caos imenso, investiga-se tudo, o que costuma significar investigar nada.
No jornalismo, é comum repórteres ficarem dias, semanas, meses coletando informações copiosas. No final, você filtra e vê que não sobrou quase nada que prestasse.
Mas Dallagnol falou de Deus e então chamo ao debate o Papa Francisco.
O mal maior da humanidade, como tantas vezes insiste Francisco, é a desigualdade.
Fico com Francisco, e não com Dallagnol.
Reduza a desigualdade e tudo de ruim reflui, incluída aí a corrupção. Mantenha a iniquidade, e a sujeira perdurará a despeito de quantas Lavas Jatos aparecerem.
A desigualdade é, em si, corrupta: floresce na lama.
Isso quer dizer que, se Deus abrisse uma vaga em sua complicada na agenda para ajudar o Brasil, sua prioridade um, dois e três seria erradicar a pobreza e construir uma sociedade justa.
A Lava Jato pode esperar.