Nesta quarta-feira (6), a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório revelando que soldados israelenses têm intimidado agentes humanitários internacionais que buscam entregar assistência para os palestinos em Gaza. O informe aponta que, em pelo menos uma ocasião, um desses agentes foi detido pelas forças israelenses enquanto organizava a retirada autorizada de pacientes em estado grave.
A divulgação do documento ocorre em meio ao impasse enfrentado por dezenas de pacotes de suprimentos doados por vários países, incluindo o Brasil, que estão retidos nas fronteiras de Gaza, impedidos por Israel de chegar à população necessitada. Recentemente, uma distribuição de alimentos terminou em mais 100 palestino mortos após soldados israelenses iniciarem um tiroteio contra pessoas famintas.
O governo de Israel alega que suas operações em Gaza estão em conformidade com o direito humanitário internacional e que suas ações têm facilitado o trabalho humanitário. Autoridades israelenses também acusam o grupo Hamas de utilizar centros de saúde e abrigos humanitários como escudos para evitar ataques.
Segundo o levantamento da ONU, houve um aumento das operações humanitárias em Gaza em fevereiro, com um acréscimo de 48% em comparação a janeiro, totalizando 111 missões. “No entanto, a eficácia desses esforços ampliados foi prejudicada pela interrupção das operações no norte e por um declínio geral na segurança dos civis, inclusive dos trabalhadores de ajuda humanitária”, disse o documento.
“Esse declínio foi atribuído principalmente à diminuição da presença da polícia local, após uma série de ataques das forças israelenses que resultaram em baixas policiais”, explicou a ONU.
A área mais afetada foi o norte de Gaza, onde apenas 25% das missões humanitárias planejadas foram facilitadas por Israel. Essa redução significativa foi resultado direto de ataques anteriores das forças israelenses, que levaram à suspensão temporária das missões de ajuda coordenadas pela ONU na região.
“Isso contrasta fortemente com janeiro, quando 61 missões foram planejadas para o norte, sendo que nove (15%) foram facilitadas”, aponta o levantamento. “A diminuição das missões planejadas e facilitadas foi resultado principalmente de uma pausa operacional feita depois que um comboio de alimentos coordenado pela ONU foi diretamente atingido por fogo naval israelense em 5 de fevereiro, enquanto aguardava em um ponto de retenção, conforme exigido pelos militares israelenses”, explica.
Já em fevereiro, das 27 ações planejadas pela ONU em Nasser, na Faixa de Gaza, apenas 12 foram autorizadas pelas autoridades sionistas. O governo de Benjamin Netanyahu também impediu que uma ajuda humanitária visitasse os pacientes críticos de uma unidade hospitalar em região fortemente atingida por bombardeios.
Além disso, diversos incidentes foram registrados, incluindo ataques diretos a ambulâncias que realizavam evacuações médicas, operações militares dentro de hospitais e detenções de equipe médica. Essas ações violam as garantias existentes e aumentam os riscos para os trabalhadores humanitários e os civis em Gaza.
Apesar dos desafios, a ONU observou um aumento nas missões coordenadas no sul e em Wadi Gaza. No entanto, ainda há obstáculos significativos, com 38% das missões humanitárias ao sul de Gaza sendo negadas ou impedidas por Israel em fevereiro.
Em uma das barreiras, Israel impediu o resgate de dezenas de pacientes mesmo com uma articulação prévia partido da ONU. “A detenção ocorreu apesar do fato de o processo de coordenação incluir a autorização israelense de todos os membros do comboio. O comboio estava transportando 24 pacientes em estado crítico, incluindo crianças, uma das quais recém-nascida”, explicou.