Ex-espião que entregou comunistas na ditadura morre aos 105 anos

Atualizado em 11 de março de 2024 às 12:01
Severino Theodoro de Mello. (Foto: Reprodução)

Severino Theodoro de Mello, conhecido como Pacato, viveu os últimos anos de sua vida de forma discreta em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro. Cada vez mais distante de visitas e contatos frequentes, ele permaneceu quase esquecido, até mesmo por seus antigos companheiros. Nascido em 1917, no ano da Revolução Russa, Mello foi o último sobrevivente da rebelião militar de 1935, popularmente conhecida como intentona comunista. As informações são do colunista Marcelo Godoy no jornal O Estado de São Paulo.

O envolvimento de Mello com questões políticas começou quando se uniu aos revoltosos do 29.º Batalhão de Caçadores, marchando em direção ao Recife durante a revolta. Esse evento marcou o início de sua jornada ligada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual se filiou em 1938, enquanto estava preso.

Após ser libertado em 1942, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde desempenhou um papel relevante ao cuidar do esconderijo do líder comunista Luiz Carlos Prestes, após a ilegalização do PCB em 1947.

Luiz Carlos Prestes. (Foto: Reprodução)

Ao longo das décadas seguintes, Mello manteve vínculos com a KGB, o serviço secreto soviético, e ocupou cargos importantes no PCB, mesmo durante a clandestinidade no Brasil, seu exílio em Moscou e o retorno ao país após a anistia de 1979. Conhecido como Pacato, sua história política tomou um rumo surpreendente em 2015, quando foi revelado que ele era o agente Vinícius, cooptado em 1974 por um oficial do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2.º Exército.

Essa revelação desencadeou duas décadas de investigações jornalísticas para esclarecer o papel de Mello em diversas operações de espionagem política que visavam neutralizar o PCB nos anos 1970. Apesar das dúvidas iniciais, evidências concretas confirmaram as alegações, destacando Mello como um dos mais importantes espiões cooptados pela inteligência militar brasileira.

Em 2016, após a emergência de novas provas, Mello foi desligado do PPS, antigo PCB, evidenciando a extensão de suas atividades como agente duplo.

Sua morte em junho de 2023, aos 105 anos, passou despercebida para muitos, encerrando silenciosamente um dos capítulos mais sombrios da história política do Brasil.

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