Bolsonaro foge para embaixada enquanto Lula segurou a onda diante da prisão. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 26 de março de 2024 às 19:18
Jair Bolsonaro dentro da embaixada na Hungria. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto

Bolsonaro nem foi denunciado ainda por golpe de Estado e já testa formas de fugir da Justiça, como os dois dias em que permaneceu escondido na Embaixada da Hungria. Lula, já condenado, mesmo com pedidos de aliados e convites de nações estrangeiras, bateu o pé e disse que não fugiria.

Bolsonaro chegou ao local no dia 12 de fevereiro após ter o passaporte retido. Imagens de câmeras de segurança mostram o ex-presidente se encontrando com o embaixador Miklos Halmai, representante do autocrata Viktor Orbán, segundo reportagem do jornal The New York Times. Na prática, houve um pocket asilo a Bolsonaro, uma vez que terreno de embaixada conta, por convenções internacionais, com imunidade.

Questionado, ele não negou que permaneceu lá dentro.

Em uma gravação feita em 7 de abril de 2018, antes de se entregar à Polícia Federal para cumprir pena devido à condenação pela Lava Jato, Lula disse que “não quis fugir porque quem é inocente não corre, enfrenta os problemas”.

O petista ainda afirmou, de forma profética, que “se tem político que não tem honra e não se defende, eu tenho muita honra e quero me defender”.

“Primeiro, eu não tenho medo das denúncias contra mim, porque sou inocente. E não sei se meus acusadores são inocentes. Segundo, eu poderia ter fugido. Estive na divisa do Paraguai com o Brasil, estive em Foz do Iguaçu, vizinho do Uruguai e da Argentina. Eu poderia ter saído, poderia ter ido para uma embaixada”, afirmou.”

Jair Bolsonaro na embaixada da Hungria. Foto: Reprodução

Ironicamente, Bolsonaro sugeriu que Lula tentaria conseguir asilo político na Etiópia para fugir de uma ordem de prisão após o julgamento do recurso pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Era janeiro de 2018 e Jair, pré-candidato à Presidência da República, atiçava seus seguidores em um vídeo pelas redes sociais.

Agora, seis anos depois, compreende-se que a declaração de Bolsonaro, mais do que uma denúncia, era uma projeção do que ele próprio faria no lugar do petista.

Ao responder a jornalistas sobre o caso, na noite desta segunda (25), Bolsonaro fugiu de detalhar o que estava fazendo na embaixada, perguntando — imerso em óleo de peroba — se era crime dormir por lá. E lançou um monte de cortina de fumaça:

“Tenha santa paciência, deixa de perseguir. Quer perguntar da baleia? Da Marielle Franco? Eu passei seis anos sendo acusado de ter matado a Marielle Franco. Acabou o assunto agora? Vamos falar dos móveis do [Palácio da] Alvorada. Fui acusado de desviar 268 móveis”.

Ainda deputado federal, Bolsonaro disse: “O soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”.

E o soldado que vai à guerra e, com medo de ser preso, foge e se esconde por dois dias em uma embaixada estrangeira? A “coragem” de Jair torna o ex-presidente um desertor da própria causa.

Originalmente publicado no UOL
Siga nossa nova conta no X, clique neste link
Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link