Além de celebrar golpe, veja 10 vezes em que Mourão menosprezou civilização. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 31 de março de 2024 às 20:07
General Mourão. Foto: Reprodução

Em comemoração aos 60 anos do golpe militar de 1964, o senador e general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos-RS) usou o X/Twitter para cutucar, na manhã deste domingo (31), quem defende a democracia.

“A história não se apaga e nem se reescreve, em 31 de março de 1964 a Nação se salvou a si mesma!”, celebrou. Isso é equivalente a elogiar um crime no seu aniversário.

Essa não foi a primeira, nem será a última vez em que Mourão disse ou fez algo escandaloso para gerar indignação no naco civilizado da sociedade e, ao mesmo tempo, excitar e mobilizar a extrema direita. Abaixo, listo outras dez vezes em que o general foi mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro.

1) Atacou a Polícia Federal e o STF e defendeu investigados por golpe – Em 8 de fevereiro deste ano, logo após uma operação da PF ir às ruas em meio a uma investigação sobre a tentativa de golpe de Estado de Bolsonaro e seus amigos militares, Mourão subiu à tribuna do Senado e incitou as Forças Armadas contra a PF e o STF: “No caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem seus integrantes ao largo da Justiça Militar. Existem oficiais da ativa sendo atingidos por supostos delitos, inclusive oficiais generais. Não há o que justifique a omissão da Justiça Militar”.

2) Propôs anistia de golpistas – É de Mourão o projeto de lei 5.064/2023 que trata da anistia para os acusados e condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Bolsonaristas tentam aprová-lo no Congresso Nacional, expandindo seu escopo para a articulação golpista de 2022, o que beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro.

3) Ainda candidato a vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, afirmou, em 7 de setembro de 2018, em entrevista à GloboNews que, em situação hipotética de distúrbios públicos, o presidente poderia dar um “autogolpe” com apoio das Forças Armadas.

4) Glorificou torturador – Na mesma entrevista, ao ser indagado sobre o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015, rasgou elogios ao coronel. Ele, que é um dos símbolos dos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura, foi seu comandante em São Leopoldo (RS). Ainda chamou o carniceiro de herói e justificou seus atos: “Excessos foram cometidos? Excessos foram cometidos. Heróis matam”.

Hamilton Mourão e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

5) Lar só com mulheres geram desajustados – Em 17 de setembro de 2018, Mourão disse que uma casa só com mãe ou avó é uma fábrica de problemáticos. Para ele, a partir do momento em que a família é dissociada, por “agendas particulares que tentam impor ao conjunto da sociedade”, “áreas carentes”, “onde não há pai e avô”, apenas “mãe e avó” transformam-se em “uma fábrica de elementos desajustados” que tendem a ingressar em “narcoquadrilhas”. Criticado pela declaração, retrucou dizendo que havia feito apenas uma “constatação”.

6) Mourão defendeu que malandragem vem de negros e preguiça, dos indígenas – Em 6 de agosto daquele ano, o general afirmou: “Temos uma certa herança da indolência [vagabundagem, preguiça], que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem, Edson Rosa [vereador negro, presente na mesa], nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso caldinho cultural”. Na época, ele disse que sua declaração havia sido tirada de contexto e que foi mal compreendido.

7) Lapso? Nem tanto – Dois meses depois, após conversar com jornalistas ao desembarcar no aeroporto de Brasília, ele atacou novamente. O general era aguardado no local por sua família. Ao elogiar o neto, Mourão afirmou: “Gente, deixa eu ir lá que meus filhos estão me esperando. Meu neto é um cara bonito, viu ali. Branqueamento da raça“.

8) Defendeu que uma nova Constituição não precisaria ser feita por representantes do povo – Em uma palestra em Curitiba, em 13 de setembro de 2018, defendeu que uma nova Carta Magna poderia ser criada por um pequeno comitê de juristas e constitucionalistas apenas com princípios e valores, sem a eleição – pelo povo – de uma Assembleia Constituinte para escrevê-la. Citou que isso já aconteceu antes em nossa história, mas não se atentou que vivemos uma democracia em que esse tipo de tutela não cabe mais. “Não precisa de Constituinte”, disse ele. “Fazemos um conselho de notáveis e depois submetemos a plebiscito. Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo.” A questão é: se o povo não escolhe, quem é que escolhe?

9) Falou de intervenção militar diante de corrupção – Ainda como general da ativa, em uma palestra promovida pela maçonaria, em 15 de setembro de 2017, em Brasília, ele afirmou que seus “companheiros do Alto Comando do Exército” entendem que uma “intervenção militar” poderia ser adotada se o Judiciário “não solucionar o problema político” [referindo-se à corrupção]. E que os militares terão que “impor isso” e essa “imposição não será fácil”. E que ainda não é o momento, mas uma ação poderá ocorrer após “aproximações sucessivas”. E que o Exército teria “planejamentos muito bem feitos” sobre o assunto.

10) Criticou direitos trabalhistas básicos – Ele criticou o pagamento de 13o salário e de adicional de férias em palestra a empresários, em Uruguaiana (RS),em 26 de setembro de 2018. E prometeu que, se Bolsonaro fosse eleito, haveria mais uma Reforma Trabalhista. “Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12, como é que nós pagamos 13 [salários]?”, disse.

Diante da repercussão negativa e de críticas do próprio Bolsonaro, ele recuou. Primeiro, disse ter sido mal interpretado, mas tudo estava gravado. Depois afirmou à Folha de S.Paulo que se referia a problemas de gerenciamento que levam empresários e governos a não pagarem os benefícios.

Publicado originalmente no UOL.

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