Médicos que estão trabalhando em hospitais localizados na Faixa de Gaza acusaram Israel de mirar em civis, crianças e idosos durante a ação militar no território palestino. De acordo com os profissionais, a maioria das crianças que chega aos postos de saúde apresentam ferimentos de estilhaços ou queimaduras, porém, algumas delas chegam baleadas no peito e, até mesmo, na cabeça.
O jornal britânico The Guardian ouviu nove médicos, mas as forças israelenses rejeitam as acusações de que seus atiradores de elite disparem deliberadamente contra civis. As autoridades afirmaram ainda que não podem abordar casos individuais “sem as coordenadas dos incidentes”.
“As IDF (Forças de Defesa de Israel) só miram terroristas e alvos militares. Em contraste com os ataques deliberados do Hamas contra civis israelenses, incluindo homens, mulheres e crianças, as IDF seguem a lei internacional e tomam precauções viáveis para mitigar danos civis”, pontuam os militares.
Alguns profissionais dizem ainda que a localização dos ferimentos nos corpos de pacientes e a extensão do dano causado sugerem que eles foram intencionalmente atingidos por munição de alto calibre.
“Perguntei à enfermeira: ‘qual é a história?’ Ela disse que foram trazidos há algumas horas. Eles foram atingidos por tiros de sniper na cabeça. Tinham sete ou oito anos”, relatou a médica canadense Fozia Alvi sobre dois pacientes que não eram as primeiras crianças de que atendia cujo relato do machucado sugeria terem sido alvos intencionais.
“Eles não conseguiam falar, [estavam] paraplégicos. Eles estavam literalmente deitados como vegetais naquelas camas. Eles não eram os únicos. Eu vi até mesmo crianças pequenas com ferimentos de tiro direto de atirador de elite na cabeça, no peito. Eles não eram combatentes, eram crianças pequenas”.
A especialista saiu de Gaza na terceira semana de fevereiro: “Esta não é uma guerra normal. A guerra na Ucrânia matou 500 crianças em dois anos e a guerra em Gaza matou mais de 10 mil em menos de cinco meses. Já vimos guerras antes, mas isso é algo que é uma mancha escura em nossa humanidade compartilhada”.
Já Vanita Gupta, médica intensivista em um hospital em Nova York, conta que trabalhou como voluntária no Hospital Europeu em Gaza no mês de janeiro. Segundo o relato da profissional de saúde, viu três crianças gravemente feridas chegando, uma seguida da outra, em um dia de atendimento.
Segundo as famílias, as três brincavam juntas na rua quando foram alvejadas. A especialista disse que nenhum adulto ferido foi levado ao hospital naquela área. “Eu pude ver que havia um tiro na cabeça de uma criança. Estavam tentando reanimar esta menina de cinco ou seis anos que obviamente havia morrido”, afirmou. As outras duas tinham ferimentos a tiro na cabeça.
O Ministério da Saúde de Gaza, que está sob controle do Hamas, informa que quase um terço dos quase 33 mil mortos nos ataques de Israel ao território palestino são crianças. Outros milhares de casos envolvem ferimentos graves, muitos dos quais resultaram em amputações.
“Estamos chocados com relatos do direcionamento deliberado e o assassinato extrajudicial de mulheres e crianças palestinas em locais onde buscavam refúgio ou enquanto fugiam. Alguns deles supostamente estavam segurando pedaços de pano branco quando foram mortos pelo Exército israelense ou forças afiliadas”, disse um grupo de especialistas da ONU que acusou as forças de Israel de atacar civis palestinos que não eram combatentes.