Por Nathalí
Dessa vez a síndrome de vira-lata foi longe demais: a câmara de vereadores do Rio de Janeiro aprovou, no último dia 25, um decreto que pode conceder à cantora estadunidense Madonna título de cidadã honorária da cidade.
Assim, do nada, sem mais nem menos.
Os lambe botas de norte americano e patriotas obcecados pelos EUA são decerto os maiores entusiastas dessa ideia.
Esses cidadãos, está claro, não amam o Brasil, mas o país mais filho da puta do globo terrestre.
Deslumbrados com a Disneylândia e suas viagens aos EUA divididas em dez vezes no cartão, essa gente precisava bajular artista pop estadunidense a qualquer custo, mas, convenhamos, eles levaram isso muito a sério.
Emocionados, coitados.
Pergunto-me também: e se fosse, por exemplo Anitta, artista pop brasileira com visibilidade mundial, indo fazer um show nos EUA?
Ela certamente não receberia um título de cidadã de qualquer estado, mesmo porque um título de cidadão dos EUA é quase como um milagre, sabemos, de tão rigorosa.
Eles não consideram que, nos Estados Unidos, somos imigrantes indesejados, fracassados ou prostitutas (e olha que tem gente fazendo questão de sair do Brasil pra ser humilhada e explorada em um país de primeiro mundo).
Puxar o saco de artista internacional é, portanto, claramente, para a prefeitura e a câmara de vereadores do Rio de Janeiro, uma prioridade.
Investir em artistas locais até conseguirem projeção internacionalmente? Não está nos planos. Exportar nossa arte? Nem pensar. Mas de puxar saco de artista internacional é com eles.
Madonna, independentemente de sua fama, prestígio e dinheiro, não faz jus a uma cidadania brasileira porque nunca fez nada pelo Brasil, e sobretudo porque sequer tem um carinho especial pelo público brasileiro.
Para ela, e pra a maioria dos estadunidenses médios, somos, por que não dizer, apenas lambe botas tupiniquins.
Agradecemos, então, à prefeitura e à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro pelo vexame internacional, como se já não colecionássemos vergonhas demais.