Os pais de uma das alunas que foi suspensa por tempo indeterminado da escola particular Vera Cruz, em São Paulo, acusada de racismo contra a filha da atriz Samara Felippo, decidiram tirar a filha do local. O DCM recebeu a carta dos pais com a decisão.
Segundo a atriz, sua filha negra de 14 anos teve o caderno rasgado e rasurado com frases racistas escritas pelas adolescentes punidas. A menina é filha de Samara com o ex-jogador de basquete Leandro Barbosa, o Leandrinho, que mora nos Estados Unidos.
O Vera Cruz puniu duas alunas do 9º ano foram punidas com a suspensão por tempo indeterminado e a escola não descarta outras punições. Samara Felippo pede a expulsão das estudantes do colégio e diz que não é o primeiro episódio de preconceito com sua filha.
Os pais de uma das alunas escreveram a seguinte carta.
Quem fala aqui é a J* e o B*, pais da A*. Muitos de vocês nos conhecem há anos. Frequentam nossas casas, conhecem nossas filhas. Alguns já viajaram com a gente. Outros, confiaram seus filhos a nossos cuidados para festas e passeios. Somos uma comunidade há mais de uma década. Juntos, todos nós temos educado nossos filhos com o melhor da nossa sabedoria e afeto.
Todos aqui sabem dos fatos ocorridos na última semana: a C* foi vítima de uma violência injustificável por parte da nossa filha e de outras colegas. Na escola, a A* já pediu desculpas à C*. No privado, já pedimos desculpas à Samara e toda sua família.
Estamos todos nessa comunidade depurando as consequências desses atos de violência. A Samara e sua filha devem estar lidando com as dores do ataque. Por aqui estamos tratando das nossas dores também, dando suporte emocional às nossas duas filhas adolescentes para passarmos pela turbulência e levarmos lições construtivas de todo esse processo. Todos nós estamos de certa forma enlutados com esse caso. Não foi o primeiro caso de violência racial no Vera Cruz. Nem o Vera é um caso isolado nas escolas de São Paulo. As escolas são um microcosmos dessa nossa sociedade estruturalmente racista e violenta.
Nos consideramos uma família progressista, que há anos busca caminhar e evoluir numa educação antirracista. Participamos desde o início do Projeto de Educação para Relações Étnico-Raciais do Vera – programa que nos dá enorme orgulho em poder contribuir. Vocês podem imaginar o tamanho do susto que levamos quando nossa filha nos contou voluntariamente na segunda-feira passada, ao voltar da escola, que havia sido ela -entre outras amigas- a praticar a violência contra a colega de classe.
Pensando em tudo isso, e depois de muita reflexão, decidimos que a melhor solução neste momento é tirar a A* do Vera. É uma decisão muito doída para todos nós, por tudo que a escola representa nas nossas vidas.
Nossa filha sempre foi uma menina educada e afetiva com as amigas nesses 13 anos de vivência escolar. Diferentemente do que alguns disseram nos grupos de whastApp, ela não é reincidente e nunca teve denúncias prévias de mau comportamento. É uma adolescente em formação como cidadã – como os filhos de todos vocês. Que comete erros e acertos, como todos nós já cometemos em nossas vidas.
Nós sempre acreditamos no projeto pedagógico do Vera Cruz, e por isso confiamos à escola nossas duas filhas desde o primeiro ano do Ensino Infantil. E entendemos que a maneira cuidadosa com que a escola vem administrando toda essa delicada situação é o caminho mais efetivo para mudanças estruturais de longo prazo e transformações geracionais – e não meramente punitivas, como se um justiçamento único fosse ter um caráter exemplar e por si modificar uma realidade incrustrada tão profundamente em nossa sociedade.
Têm sido dias de muita reflexão. Apesar dos esforços individuais, da escola e de toda a comunidade, o episódio deixa claro que ainda há um longo e árduo caminho pela frente para enfrentarmos o racismo estrutural, dentro e fora de nossas casas.
Gostaríamos de agradecer as dezenas de mensagens que recebemos de vocês na última semana nos dando apoio e suporte para cruzarmos esses desafiantes dias para nossa família – e entendendo que o ato de violência praticado por nossa filha foi uma exceção, e não a regra, em sua conduta ética nessa transição complexa que é a adolescência.
Por fim, com a saída voluntária da A*, esperamos que os necessários debates da luta antirracista dentro de uma instituição de ensino com jovens em formação se deem com lucidez e razão. Esperamos que as discussões que continuam após esse episódio gerem luz e soluções efetivas. Dentro de nossas possibilidades, vamos contribuir para isso.
*Os nomes dos pais e das crianças foram ocultados para proteção da intimidade dessas pessoas.
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