Projeto de Musk para Amazônia no governo Bolsonaro nunca foi concretizado

Atualizado em 16 de maio de 2024 às 23:17
O ex-presidente Jair Bolsonaro, Elon Musk e o então ministro Fábio Faria em encontro em São Paulo — Foto: Reprodução / Redes Sociais

Uma parte significativa do grande projeto anunciado em 2022 entre o governo de Jair Bolsonaro e o empresário Elon Musk nunca foi concretizada.

A informação foi divulgada por Carlos Baigorri, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em uma entrevista ao jornal “The New York Times”, em uma matéria sobre o bilionário e sua “relação diplomática” com líderes da extrema direita ao redor do mundo.

Em maio daquele ano, o governo do então presidente Bolsonaro anunciou uma parceria com a empresa Starlink, de Musk, para a instalação de satélites de monitoramento na Amazônia.

A intenção era que a companhia compartilhasse dados para identificar focos de desmatamento e, eventualmente, conectar escolas em áreas rurais da região. No entanto, a conexão com as escolas não foi implementada.

A iniciativa foi discutida durante um encontro em um hotel no interior de São Paulo. No entanto, conforme noticiado pelo jornal O Globo, não foram apresentados contratos, divulgados valores do acordo, nem detalhes sobre a viabilização da parceria ou as contrapartidas exigidas.

O ex-presidente Jair Bolsonaro cumprimentando o bilionário Elon Musk. Reprodução

A reportagem do “The New York Times” intitulada “A democracia de Elon Musk” descreve como o empresário usou suas empresas para apoiar abertamente políticos da extrema direita, como Bolsonaro, o presidente da Argentina, Javier Milei, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Em troca, Musk conseguiu expandir seus negócios e fortalecer seu “império empresarial”.

A reportagem mostra que em 2021 Musk tentava trazer o serviço da Starlink para o Brasil. Segundo a publicação, a Starlink “ainda estava em seus estágios iniciais” e possuía menos de 150 mil usuários em 25 países.

O jornal obteve acesso a uma carta enviada pelo ministro das Comunicações, Fabio Faria, a Musk, dizendo que a Starlink e o Brasil poderiam se tornar “grandes parceiros”. Semanas depois, o ministro visitou o bilionário nos Estados Unidos e, ao retornar ao Brasil, pressionou as agências reguladoras a aprovarem a empresa de satélites no país.

A visita de Faria aos Estados Unidos ocorreu em novembro de 2021. Três meses depois, em janeiro, a Anatel autorizou a Starlink a operar satélites de órbita baixa no Brasil. Na época, Musk afirmou que o projeto levaria internet a 19 mil escolas desconectadas.

Em entrevista ao “NYT”, Carlos Baigorri afirmou que o plano de conectar escolas nunca se concretizou. “Eu realmente não acredito que isso sequer existisse”, disse o presidente da Anatel sobre o plano. Ainda segundo o jornal, autoridades brasileiras disseram não ter registro da empresa de satélites ter conectado qualquer escola na região ou conduzido o monitoramento ambiental.

A publicação americana destaca que, mesmo sem o projeto ter avançado, tanto Bolsonaro quanto Musk se beneficiaram da publicidade do caso. “Musk consolidou a SpaceX em um mercado crítico, onde a Starlink agora tem 150 mil contas ativas”, enquanto a campanha do ex-presidente promoveu a imagem de que ele seria um “defensor da Amazônia” antes das eleições de 2022. Apesar disso, Bolsonaro perdeu as eleições.

A publicação também menciona o último confronto de Musk com o ministro Alexandre de Moraes que beneficiou o bolsonarismo. Em abril, os dois entraram em conflito quando o empresário desafiou Moraes sobre bloqueios de contas no X (antigo Twitter) no âmbito do inquérito sobre milícias digitais.

Musk afirmou que iria descumprir as decisões judiciais de Moraes e liberar o conteúdo bloqueado. A Polícia Federal iniciou uma investigação sobre as declarações do bilionário, incendiando o debate nas redes, principalmente entre políticos de direita.

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