Na quinta-feira (23), a Polícia Federal enviou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o relatório complementar, no que era considerada a última peça que faltava no inquérito que apurava o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Para a PF, o caso Marielle está definitivamente encerrado.
Com o inquérito concluído, a próxima etapa do caso é o ministro Alexandre de Moraes avaliar se aceita ou não a denúncia da PGR. No momento, está aberto o prazo para a manifestação dos advogados de defesa, que já pediram mais tempo e acesso à íntegra do material apreendido nas operações da PF.
Entre os pedidos pendentes de uma decisão de Moraes está o pleito do delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa para ser ouvido na investigação. Acusado de ser mentor intelectual do crime, Barbosa e os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, apontados como mandantes do assassinato, ainda não foram interrogados pela Polícia Federal após a operação Murder Inc., desencadeada no final de março para prendê-los.
“Por misericórdia, solicito que V.Exa. faça os investigadores me ouvirem, pelo amor de Deus”, escreveu Rivaldo em sua súplica. Caso Moraes decida autorizar o depoimento de Rivaldo Barbosa, ele será feito já no âmbito do gabinete do ministro e não mais como peça do inquérito da PF, que já está encerrado.
Os três suspeitos de serem os mentores do crime estão em diferentes presídios federais. A menos que Moraes decida atender o pedido de Rivaldo – que num bilhete enviado ao ministro chegou a pedir “pelo amor de Deus” para ser ouvido na investigação – os três só terão chance de depor após a decisão do ministro sobre se acata ou não a denúncia já feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
No relatório entregue a Moraes, a Polícia Federal informou ter encontrado arquivos de delações premiadas em um HD externo apreendido na casa de Domingos.
Entre os documentos encontrados no HD, estavam os termos de declarações de delações sigilosas do ex-presidente do TCE Jonas Lopes Filho e de seu filho, Jonas Lopes Neto. Ambos implicaram Brazão em um esquema de corrupção que foi alvo da Operação Quinto do Ouro, um desdobramento da Lava-Jato no Rio de Janeiro. Essas delações foram fundamentais para a prisão de Brazão em 2017.
A colaboração de Jonas Filho revelou que Brazão ameaçou de morte quem o delatasse. Em um relato detalhado, Lopes contou que Brazão disse que mandaria assassinar o conselheiro José Maurício Nolasco e seus familiares caso ele decidisse colaborar com a Justiça. “Se ele fizer isso, ele morre. Eu começo por um neto, depois um filho, faço ele sofrer muito, e por último ele morre”, teria dito Brazão durante um almoço na sede do TCE no Centro do Rio, na presença de outros três conselheiros.
A PF também encontrou mensagens no celular de Domingos, revelando que ele buscou ajuda de diversos políticos um dia antes de ser preso. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil) e o ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB) foram alguns dos políticos procurados.