Sabe o silêncio que Cunha fez quando Chico Alencar perguntou a ele na Câmara se tinha mesmo contas na Suíça?
Como poderíamos classificá-lo?
Cínico. Cafageste. Culpado. Canalha. Indecente. Patético. Debochado.
Bem, é só ir ao dicionário em busca de palavras negativas e você vai ver que cada uma delas caberá ao silêncio de Cunha diante de Chico Alencar.
Você verá, também, que cada um dos adjetivos vale, igualmente, para o silêncio de FHC, Aécio e Serra sobre o escândalo das contas de Cunha na Suíça.
É um silêncio particularmente revelador este dos tucanos porque mostra a natureza da sua pregação anticorrupção.
Como os golpistas de 1954 e 1964, que tanto usaram o “mar de lama” para derrubar governos democraticamente eleitos pelo povo, o que menos interessa aos tucanos hoje é acabar com a corrupção.
Eles querem é dar um golpe. Não mais e nem menos que isso.
Não que isto fosse novidade.
É estranho alguém como falar em corrupção quando, como FHC, deve um mandato à compra, com cédulas acomodadas em malas, de deputados para aprovar uma emenda.
Ou quando, como no caso de Aécio, usa dinheiro público para irrigar rádios da família e para fazer um aeroporto particular.
O moralismo é o último refúgio dos demagogos, e FHC e Aécio comprovam esta frase.
Escrevi, há algum tempo, que Cunha era um morto vivo. Agora, ele mudou de categoria: é um morto morto.
E não há nada que seus aliados de ocasião possam fazer para devolvê-lo à vida.
As contas suíças são uma cadeira elétrica para o presidente da Câmara. Não apenas a existência delas, mas os detalhes que as autoridades suíças passaram aos brasileiros.
Cunha usou empresas fantasmas para tentar enganar o sistema financeiro suíço, sabemos agora. Colocou pessoas da família como titulares delas, em seu lugar.
Quis ser mais esperto que os suíços, mas deixou suas digitais em sua delinquência. Em todas as contas abastecidas de dinheiro sujo lá estava ele como beneficiário.
A esta altura, você pode resumir o caso assim. Quem está mentindo: os suíços ou Cunha?
O episódio mostra por que é vital acabar com o financiamento privado de campanhas.
As sobras, muitas vezes milionárias, vão terminar em contas como as de Cunha na Suíça.
É por isso que tanta gente se bate pela permanência do dinheiro de empresas na política.
Não é apenas uma forma de se eleger, uma vez que sem dinheiro ninguém faz nada.
É também porque sempre haverá sobras capazes de enriquecer pessoas como Eduardo Cunha.
E o interesse público diante desse descalabro? Ora, dane-se o interesse público.
Enfrentar verdadeiramente a corrupção é varrer da política figuras como Eduardo Cunha.
Mas não é isso – um saneamento — o que querem os cardeais tucanos.
Eles na verdade são um obstáculo no enfrentamento à corrupção.
Por isso, num mundo menos imperfeitos eles acabariam varridos da política como Eduardo Cunha.