Por que a Coca, patrocinadora de Cunha, não faz com ele o que fez com Blatter? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 6 de outubro de 2015 às 12:39
Esta noite encarnarei no teu cadáver
Este homem não está à venda

 

Os maiores patrocinadores da Fifa divulgaram um comunicado pedindo a “renúncia imediata” de Sepp Blatter da presidência.

Coca Cola, McDonald’s, Visa e Budweiser cobraram mudanças na entidade. Em fevereiro, o ladrão Blatter havia anunciado que sairia. Uma semana depois, mudou de ideia.

O recado foi dado após o aviso das autoridades suíças de que Blatter está sob investigação por gestão fraudulenta e apropriação indébita.

A Coca, parceira desde 1978, foi a mais contundente. É preciso “retomar a confiança de todos aqueles que amam o esporte”.

“Para o benefício do jogo, a Coca-Cola quer que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, saia para que um processo de reforma crível e sustentável possa começar seriamente. A cada dia que passa, a imagem e reputação da Fifa estão sendo ainda mais manchadas. A Fifa precisa de uma reforma abrangente e urgente, o que só pode ser realizado através de uma abordagem verdadeiramente independente”, disse.

Uma das coisas que os consumidores procuram hoje nas marcas é responsabilidade. Essas companhias estão tomando uma posição que consideram importante perante seus clientes.

Agora: por que a Coca e outras não fazem o mesmo com Eduardo Cunha?

A gigante das bebidas doou 250 mil reais para a campanha de EC, através da Recofarma, sua fabricante no Brasil. Cunha terminou como o terceiro deputado federal mais votado no Rio de Janeiro.

Cunha, no total, recebeu 6 832 479 reais e gastou 6 415 150 reais, um espetáculo. Sobraram, portanto, 417 329 reais (sabem Deus e a Assembleia de Deus onde estão).

Teve o apoio milionário de várias instituições: 1,35 milhão dos bancos (500 mil do Bradesco, 500 mil do BTG Pactual, 300 mil do Santander, 50 mil do Safra).

Os shoppings Iguatemi doaram 500 mil, mais 700 mil da Líder Taxi Aéreo. A Vale entrou com 700 mil, a Telemont, do setor de telecomunicações, com 900 mil.

Como não existe almoço grátis, todas essas organizações esperavam que Cunha defendesse seus interesses na Câmara, como sempre.

Mas bancar um sujeito com essa ficha suja, que ainda pode ir para a cadeia, não é bom para os negócios. O departamento de marketing da Coca Cola, em tese, sabe disso.

Em nome da coerência, a Coca deveria proceder com Eduardo Cunha como procedeu com Sepp Blatter. Exigir sua renúncia seria bom. Ou, eventualmente, pedir desculpas por ter ajudado a eleger o homem.

Esqueça o mal que o refrigerante faz para os dentes. Perto do estrago que Cunha causa à saúde dos cofres públicos e, mais amplamente, ao Brasil, isso não é nada.