Andressa Mendonça é a mulher mais desejada do Brasil, e Cachoeira o cafajeste mais invejado.
Andressa Mendonça simplesmente arrebatou os brasileiros em 2012. Fazia muitos anos que uma mulher não entrava de forma tão avassaladora no imaginário sexual nacional.
Provavelmente desde Teresa Collor, senhora da fantasia erótica brasileira nos tempos em que seu cunhado Fernando era escorraçado do Planalto.
Todos ficamos de alguma forma irritados com Cachoeira pela posse exclusiva da beleza doce e ao mesmo tempo agressiva de Andressa.
Sonhamos com ela, e mentalmente a despimos e a possuímos, como se tivéssemos todos nós, brasileiros heteros, casado com ela, e não apenas o bicheiro corrupto e feio que se gabava secretamente de manipular a Veja e assim destruir quem estivesse em seu caminho.
De alguma forma estranha, por causa de Andressa, somos todos Cachoeiras, pelo menos parcialmente. Compartilhamos seu fascínio por ela, e simultaneamente o invejamos e o desprezamos.
Cachoeira é como o dragão do qual queremos salvar a mocinha para que, como num conto de fadas, o bem triunfe sobre o mal. Nào podemos tolerar a ideia de que a princesa esteja com o dragão porque quer.
Idealizamos Andressa. Quase que a tornamos virgem, e como tal torrencialmente indefesa, em nossa imaginação.
Recusamos vê-la como ela é, uma mulher que para a qual marido e filhos não foram obstáculo para que ela, como uma Ana Karênina dos rincões, obedecesse ao instinto primário e se entregasse ao amante.
A Ana de Tolstoi mesmerizou as atenções com seu despudor insolente: todos os olhos se fixaram nela quando ela não conteve o desespero barulhento ao ver seu amante cair numa corrida de cavalos. Ali gritava a fêmea ameaçada de oerder o macho, num berro primal que é uma das passagens mais sublimes de toda a história da literatura.
Vronski, o canalha que Tolstoi colocou na vida de Ana, era um homem aristocrático, belo, rico, cultivado, aventureiro, irresistível, cobiçado por todas as mulheres da nobreza russa. Tinha o título de conde, a juventude de um Byron e a atitude de um Casanova.
Nosso Vronski é tosco, provinciano, iletrado, feio, falastrão. Pinta os cabelos. A todos os atributos negativos se junta uma quantidade enorme de dinheiro obtida criminosamente que apenas sublinha tudo que ele já tem de ruim.
Mas ele tem Andressa, o corpo de Andressa, talvez a alma, e nós não.
A consciência de tudo isso faz com que queiramos salvar Andressa de Cachoeira, diante do qual cada um de nós se enxerga como um Vronski à busca de Ana. Temos que dar a ela o destino merecido, não a companhia de um bicheiro suburbano na cama, mas as atenções extravagantes de um conde europeu que, em nossa fantasia louca, somos nós mesmos.
Em 2012 os brasileiros descobrimos Andressa e a amamos imediatamente. Em nossas resoluções para 2013 figura a missão de libertá-la do dragão que a sequestrou.