Leio que pela primeira vez o Jornal Nacional perdeu, no Ibope, no Rio de Janeiro.
Foi batido por uma novela da Record.
Mas o que mais me chama a atenção na notícia é a audiência do JN: 20 pontos. E isso em seu reduto carioca.
Esse desempenho sofrível – não de um dia, não de uma semana, mas prolongado – torna interessante uma pergunta.
Quanto o drama de audiência do JN é fruto do mercado e quanto é fruto do trabalho de seus editores.
Que a internet é a principal razão, não há dúvida. A Era Digital tornou obsoleta a tevê como a conhecemos.
As pessoas crescentemente consomem vídeos na internet, em seus celulares ou, em menor parte, tabletes. Na hora em que querem, do jeito que preferem.
Para empresas que vivem da tevê, como a Globo, é uma tragédia.
Não é exagero dizer que a Globo é a Abril amanhã.
Mas, descontados os estragos da mão invisível, como Adam Smith chamava o mercado, há que olhar para o Jornal Nacional diante de outros programas.
O fato de ser batido – ainda que por uma novela – é um sinal claro de que também o conteúdo está deixando a desejar, na visão dos consumidores.
É então que entra a responsabilidade de Ali Kamel, responsável pelo JN, e de William Bonner, o locutor e principal editor.
Eles pegaram o JN com mais que o dobro da audiência de hoje. Sob os números frios, é uma calamidade e um atestado de inépcia.
Mas há, repito, que levar em consideração as circunstâncias.
Mesmo elas, no entanto, não parecem ser ruins o suficiente para explicarem, sozinhas, o fenômeno da debandada dos espectadores.
A Globo tem feito pesquisas com o público para aferir por que suas novelas são uma sombra do que foram em audiência.
Estará fazendo o mesmo com o JN?
Não sei, e suspeito que sim.
Um breve e superficial exame meu, como jornalista, sugere que o JN é um produto com sérias deficiências.
A maior delas é o peso dedicado às más notícias.
Vou simplificar. Nos tempos da ditadura militar, o Brasil era pior do que o Brasil mostrado no JN.
Agora, o Brasil é melhor do que o Brasil mostrado no JN.
Por trás de tudo há uma intenção política.
Sob a ditadura, Roberto Marinho se empenhava em produzir um noticiário que beneficiasse os generais, em troca de privilégios.
Hoje, descrever um país à beira do colapso e mergulhado num mar de lama é parte de uma tentativa de colar no PT o carimbo de inepto e corrupto.
Isso prejudica o conteúdo e, consequentemente, afasta mais espectadores do que a internet, sozinha, faria.
Talvez não adiante nada demitir Kamel e Bonner se essa lógica perdurar. Os novos editores fariam um JN tão ruim quanto os velhos.
Uma boa comparação é com a Veja.
Trocar os editores é inútil se a Abril não alterar a missão da revista: eliminar o PT.
Uma coisa é certa: a Globo tem um grande problema com seu principal telejornal.