Acabaram não se confirmando as expectativas de uma vitória acachapante da extrema-direita na eleição para o Parlamento Europeu.
Apesar disso, contudo, os resultados da votação são altamente preocupantes, pois evidenciam o maior ascenso da representação política e institucional da extrema-direita européia desde o final da Segunda Guerra, com a conquista de 170 cadeiras – quase 25% do total.
Com isso, a extrema-direita ampliou 52 assentos, significando um crescimento de 44% em relação à representação que conseguiu eleger em 2019.
Os agrupamentos que mais perderam cadeiras foram o Renovar Europa, neoliberal, que perdeu 23 cadeiras, e o Grupo Verdes/Aliança Livre Européia, com 18 cadeiras perdidas.
O extremismo de direita fez as maiores bancadas da Itália [52%], Hungria [47%] , França [43%], Polônia [37%], Áustria [30%] e Bélgica [27%]; e ficou em segundo lugar na Holanda [22%] e Alemanha [17%].
Os países onde a extrema-direita conquistou suas maiores representações foram a Itália, com 40 eleitos, a França, com 35, a Polônia, com 20, e a Alemanha, com 15 cadeiras conquistadas.
A forte expansão extremista não abala a hegemonia da aliança neoliberal conservadora da democracia-cristã apoiada pela social-democracia e Verdes no Parlamento Europeu, mas deverá tracionar o debate político da comunidade européia para a direita, além de agendar as discussões continentais sobre criminalidade, segurança e imigração desde uma perspectiva reacionária e xenófoba.
Outro desdobramento deste desempenho da extrema-direita deverá ser sentido nas dinâmicas políticas nacionais no próximo período, reconfigurando o poder interno em cada país, como mostra a situação na França, com a dissolução do atual parlamento e convocação de novas eleições legislativas.
Os líderes da Alemanha e da França, Olaf Scholz e Emmanuel Macron são os principais derrotados, ao passo que Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, e Marine Le Pen, ultradireitista francesa, são as grandes vitoriosas.
Outro aspecto muito preocupante a ser considerado concerne ao voto dos jovens na Alemanha e França, os dois países-motores da União Européia. Na Alemanha, os novos eleitores de 16 anos, assim como grandes contingentes de jovens, votaram majoritariamente na AfD, a fascista Alternativa para a Alemanha.
Na França o jovem Jordan Bardella, de apenas 28 anos, militante desde a adolescência, liderou a lista vitoriosa de candidaturas do Rassemblement National, o ultradireitista partido de Marine Le Pen, com uma plataforma ultranacionalista e contra a imigração.
A extrema-direita vem crescendo mundialmente de modo correlato ao agravamento e à cronicidade dos efeitos da crise do neoliberalismo nesta etapa de ultra-financeirização capitalista.
Os fascismos que refloresceram com força nos últimos anos no mundo são soluções endógenas do próprio capitalismo à interminável crise do sistema aberta em 2008; representam a escolha por gestões autoritárias e fascistas da barbárie neoliberal.
Bolsonaro, Trump, Meloni, Le Pen, Bardella, Bukele, Milei, Orbán e outras figuras do gênero são expressões desse fenômeno. Com a demagogia contestatória, anti-sistema e uma mística revolucionária, capturam consciências de delidudidos e descrentes exauridos com décadas de promessas neoliberais não-cumpridas.
Publicado originalmente no blog do autor
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