Cláudia Cruz está listada nos documentos das contas na Suíça como “dona de casa”. Sim, isso mesmo.
Sócia de Cunha em algumas empresas, entre elas a clássica jesus.com, fora da TV desde 2001, a jornalista suspeita de lavagem de dinheiro desfrutou magnificamente da fortuna.
Segundo a Procuradoria Geral da República, dirigia um Porsche Cayenne e gastou 60 mil dólares com aulas de tênis numa academia da Flórida onde as irmãs Williams treinaram.
O STF autorizou o sequestro de 9,6 milhões de reais dos Cunhas. “Sua conta é utilizada especialmente para captar recursos de contas do marido”, diz o despacho do MP, que ainda menciona “despesas bastante consideráveis em cartões de créditos”.
Agora: por que dona de casa?
Por uma malandragem dos bancos e, claro, da titular. As instituições costumam acomodar clientes suspeitos — incluindo traficantes de armas e criminosos condenados — em atividades não remuneradas.
(Aliás, na documentação Cunha surge como “pessoa politicamente exposta, deputado federal no Brasil”).
De acordo com relatórios do caso Swissleaks, “dona de casa” é um qualificativo nas contas secretas mais comum do que “advogado” ou “comerciante de joias”.
As senhoras do lar respondem por mais de 7300 clientes nos arquivos no braço suíço do HSBC, à frente de outras duas categorias que também sugerem nenhuma remuneração financeira: “sem profissão” e “estudante”, juntos, perfazem 4 mil contas.
Cláudia está em boa companhia na pilantragem. Os vazamentos do Swissleaks contam a história de uma dinamarquesa de 57 anos chamada Hanne Tox. Ela abriu uma conta na Suíça — o que é um crime em seu país, como registra o gerente.
Meses depois, fez uma visita aos administradores de seu dinheiro. Passou a noite no hotel mais caro de Zurique, o Baur au Lac, aberto em 1844, palco da estreia mundial de “Cavalgada das Valquírias”, de Wagner. “Gostou muito”, lê-se em sua ficha.
No dia seguinte, sacou 24 500 dólares e voltou para casa. Hanne, cujo marido morreu em 2003, está classificada como “dona de casa”.
A americana Mary Wells Lawrence, mito da publicidade, fundadora de uma agência nos anos 60, foi uma das executivas mais bem pagas de seu tempo (ela tem 87). Criou o slogan I Love NY e lançou a Alka Seltzer.
Casou-se com um milionário e dividia seu tempo entre os Estados Unidos, uma ilha no Caribe e uma propriedade na Riviera Francesa que recebia gente como a princesa Grace de Mônaco e Frank Sinatra.
Tem duas contas secretas. Profissão? Do lar. Assim como uma princesa saudita, uma executiva tailandesa envolvida num escândalo de corrupção e a herdeira do império de moda de Nina Ricci.
Só gente boa. Na hora de lavar os pratos, engomar a roupa e preparar aquele coxão duro com arroz e feijão para as crianças, Cláudia Cruz já sabe para quem pedir umas dicas.