Os líderes do fascismo conseguiram conter as delações. Por Moisés Mendes

Atualizado em 12 de junho de 2024 às 23:13
Mauro Cid fardado, com expressão de conformismo, sem olhar para a câmera
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro – Reprodução

É silenciosa, porque constrangida e abafada, a frustração com um detalhe das investigações em torno de Bolsonaro e de seus acumpliciados. Não há, como se esperava, um ritmo razoável de encadeamento de fatos novos que abalem as estruturas do fascismo.

Frustram-se as expectativas dos que esperavam que uns iriam cair sobre os outros, em poucos meses de investigações, e que manés e manezinhos levariam aos manezões. Não só no golpismo, mas em todas as modalidades de crimes das facções bolsonaristas.

Esperava-se que, a partir do cerco ao varejo, polícia e Ministério Público iriam chegar aos comandos e abastecer o Judiciário com informações que comprovariam os crimes dos núcleos de todos os delitos cometidos pela extrema direita dentro e fora do poder.

As peças iriam tombar, numa sequência de revelações que desmantelariam as lideranças do golpe, das muambas, das quadrilhas das vacinas na pandemia e de outros crimes cometidos impunemente durante quatro anos, diante de um sistema de Justiça leniente e contemplativo.

Esperava-se que, a partir dos primeiros tombados sem maior relevância nas facções, fosse produzida uma sequência de reações em direção aos chefes. Havia a certeza de que, por sentimento de abandono, vingança e ressentimento dos primeiros presos, MP e Justiça teriam as melhores safras de delações.

Não é o que acontece. Mauro Cid (foto) pode ter contribuído para que cheguem além da copa e da cozinha dos serviçais do Planalto que executavam as ordens de Bolsonaro. Mas até essa contribuição ainda parece imprecisa.

Anderson Torres, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Reprodução

Qual é a colaboração, mesmo que indireta, de Anderson Torres? Qual foi até agora a contribuição efetiva de Silvinei Vasques, o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal? O que polícia e MP obtiveram da raia miúda que pudesse levar a provas sobre os que atuavam ao redor do núcleo do golpe?

Essa raia miúda, que reúne financiadores médios do 8 de janeiro, nunca disse nada sobre os graúdos que vinham patrocinando o golpe desde logo depois da posse de Bolsonaro?

Quantos, entre financiadores pés-de-chinelo de gastos com barracas, bandeiras, banheiros químicos e lanches nos acampamentos, eram apenas laranjas de grandes financiadores ocultos?

Onde estão os grandes patrocinadores do golpismo, desde a formação da estrutura do gabinete do ódio? Quem de dentro da Abin irá denunciar as gangues que agiam na agência para produzir dossiês contra amigos de Bolsonaro, com o objetivo de arrancar dinheiro dos denunciados?

Nada mais se fala dos generais do golpe, porque o cerco não se fechou, como esperavam que se fechasse. Onde estão os grandes chefes endinheirados dos bloqueios de estradas?

Avançam as investigações sobre as muambas das arábias, que são importantes para levar a uma condenação de Bolsonaro, mas é isso o que o país espera? Não é só isso.

Não será duradouro o consolo de que Bolsonaro será condenado por tentar vender as joias que teriam sido enviadas para Michelle. Assim como não há consolo, desde já, em saber que Sergio Moro pode sofrer condenação por causa de uma briga de rua com Gilmar Mendes.

Bolsonaro deve ser condenado pelo golpe, e Moro precisa ser enquadrado pelos crimes do lavajatismo. Mas o sentimento que prevalece é o de que o tempo se esvaiu, apesar da dedicação dos investigadores.

A extrema direita está vencendo, ou dá a entender que está. Com Arthur Lira, com Campos Neto, com as grandes corporações de mídia e com tudo. Enquanto os manés fogem para a Argentina.

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

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