Escrevi uma vez e repito: a personagem mais fascinante do casal Cunha é sua mulher, Claudia.
Lamentavelmente, para os leitores, Claudia Cruz foi miseravelmente coberta pela imprensa preguiçosa, viciada na tarefa fácil de coletar telefonicamente vazamentos de gente da Lava Jato.
Vistas as coisas em retrospectiva, o que mais impressiona em Claudia é a coleção de fotos extravagantes que ela foi postando no Facebook ao longo dos últimos meses, até que as coisas se complicassem para o seu marido. (Aqui, você tem várias delas.)
A pergunta de 1 milhão de reais, ou de dólares até, é a seguinte: ela estaria de alguma forma se entregando ali?
É uma ocorrência comum na história da patologia humana: a pessoa, de alguma forma, se entregar indiretamente sob o peso esmagador da consciência culpada.
A pessoa não pega o telefone e diz: “Sou culpado disso e daquilo. Me prendam, por favor.” Mas espalha pistas para olhos atentos.
É aí que parecem se enquadrar as fotos de Claudia Cruz postadas no Facebook. Elas mostram um estilo de vida incompatível com o salário de um deputado federal.
Os cenários, os destinos, os hotéis, as roupas, os acessórios, as joias: ali está consagrado o clássico não poupo despesas.
Ela não é de família rica, e nem tinha ou tem um negócio relevante.
Até pela formação jornalística, Claudia sabe quanto ganha um deputado como seu marido. Não existe o milagre da multiplicação, pelas vias honestas, no salário de um deputado, por maiores que sejam as mordomias e facilidades.
Estaria Claudia mandando um recado?
É a possibilidade na qual aposto.
Um segundo caminho para entender leva a outra direção. Claudia seria um exemplo típico do que o brilhante economista Thorsten Veblen, norueguês que se radicou nos Estados Unidos no final do século 19, chamou de “consumo conspícuo”.
Veblen observou, na plutocracia americana, coisas como festas milionárias para cães de madames.
Ele desenvolveu a teoria, que se consagrou e é aceita até hoje, de que para as classes abastadas não basta ter dinheiro. É preciso mostrar.
Daí o “consumo conspícuo” (notável).
No caso de Claudia, os dois fatores podem, a rigor, ter se juntado. Com seu “consumo conspícuo” ela acabaria chamando a atenção para o marido deputado.
Ou deveria, pelo menos, chamar num mundo menos absurdo.
Nem a mídia e nem a Polícia Federal pareceram interessadas em checar de onde vinha o dinheiro para Claudia levar uma vida ostensiva de mulher rica.
Em suas intermináveis etapas, a Lava Jato de Moro também passou ao largo disso.
É a vida como ela.
Qualquer que seja a real explicação para a série de fotografias reveladoras de Claudia Cruz, o certo é que ela, Claudia, é infinitamente mais interessante que o marido.
Ele é um corrupto mitomaníaco, um polítoco da pior espécie a serviço de causas que representam o atraso do atraso. Ela é um mistério que enfeitiça e desafia, um enigma fascinante ainda qpor desvendar.