Eu vivi para ver a luta feminista ganhar força. Vivi pra ver 3 mil mulheres na Marcha das Vadias. Sou contemporânea à PL 478/2007 (estatuto do nascituro), que está travada até hoje porque mulheres foram às ruas para dizerem que nossos úteros são laicos e que as leis de nosso país não podem nos violentar.
Vivi pra ver uma mulher lutar contra a ditadura e chegar à presidência, uma cantora produzir um clipe feminista com mais de sessenta mulheres e uma mulher chegar ao espaço. Pra ver uma das provas mais importantes do país abordando a violência contra a mulher como tema.
Faço parte, portanto, de uma geração de mulheres que percebeu que nós precisamos falar por nós mesmas. E que nós podemos fazer isso. O mundo tem compreendido: nós não estamos para brincadeira.
Enquanto isso, no Congresso, um deputado esconde dólares na Suíça e continua livre – e atuante, o que é ainda pior.
Cunha sabe que corrupção não dá em nada quando se tem poder – e que ele provavelmente continuaria roubando dinheiro público descaradamente sem maiores consequências, protegido por uma justiça omissa e tendenciosa.
Sua grande infelicidade foi mexer com as mulheres em uma época de tamanha efervescência feminista. Talvez numa tentativa de desviar o foco dos próprios escândalos, ele apresentou a PL 5069, que dificulta o atendimento a mulheres vítimas de violência sexual e proíbe a prescrição da pílula do dia seguinte.
Milhares de mulheres foram as ruas desde então, em vários estados do país. Em São Paulo, o ato contou com quinze mil mulheres. No Rio de Janeiro, outras cinco mil foram às ruas. Em Salvador ocorrerá o segundo ato Fora Cunha. As redes sociais estão tomadas por campanhas de protesto.
Nós já provamos que somos uma geração que não desiste, que não esmorece e que não foge à luta. Mostramos que nossa atenção e sensibilidade servem também para protagonizarmos a guerra pela nossa própria liberdade. E ainda que o Brasil esqueça os dólares na Suíça, nós não esqueceremos a PL 5069. E é justamente ela – talvez um simples e infeliz desvio de foco do deputado – que o derrubará.
Tenho dito: Eduardo Cunha é um trabalho nosso.