As cenas dos policiais batendo nos alunos que estão protestando contra a “reorganização” da educação pelo governo Alckmin ficarão marcadas na história de São Paulo.
O tipo de disciplina violenta resume um estilo que o Picolé de Chuchu consagrou. Ele é o falso cordato, o falso tiozinho gente fina do interior, eternamente adotando medidas de cima para baixo, sonegando informação, mentindo. Maluf, que apelava para a Rota, ainda tinha um charme de vendedor de tapete persa.
Há um traço de psicopatia em Alckmin. Enquanto as pessoas iam presas na noite de 1º de dezembro, por exemplo, seu perfil no Twitter dava dicas sobre as aulas de moda ministradas pela primeira dama: “São cursos de Corte e Costura, Modelagem, Bordado em Linha, Bordado em Pedraria, Crochê e Confecção de Caixas, todos gratuitos”.
A PM está sendo, merecidamente, criticada por descer o cacete nos alunos. Agora: a culpa não é dos canas e sim de quem acredita que a solução para qualquer problema é acioná-los.
Os paulistas foram acostumados à ideia de que todas as questões sociais — uso de drogas, greves, manifestações, doenças mentais, brigas de trânsito, mudanças no ensino — são resolvidos enviando homens especializados em inspirar o medo.
Alguém se espantou com o fato de que, provavelmente, muitos daqueles soldados violentos tinham filhos em escolas ocupadas. Por que isso não os deteve? Porque eles não sabem fazer outra coisa e é ingênuo — eventualmente, injusto — achar que agirão de forma diferente. Eles são robôs? Sim.
Alckmin substitui autoridade por poder. O sociólogo americano Robert Nisbet fez uma distinção entre os dois conceitos. “A autoridade pressupõe relacionamento, lealdade e é baseada, em última análise, no consentimento de quem está sob ela”, escreveu.
“O poder, por outro lado, é externo e baseado na força. Existe onde as alianças se enfraqueceram ou nunca nasceram. O poder surge quando a autoridade desaparece”.
Alckmin não tem autoridade. Policiais militares não são professores, psicólogos, terapeutas de casais ou conselheiros familiares. São pagos para cumprir ordens e sobem na carreira ou caem em desgraça por causa disso.
Não estou, obviamente, defendendo as borrachadas. Só não faz sentido criar uma expectativa de um resultado alternativo com esses fulanos fardados. Como diz o velho adágio, para quem só anda com martelo, qualquer coisa é um prego.
O cabo Gustavo e o tenente Roberval estão fazendo o que ordena Geraldo Alckmin. É ali que mora a imensa dificuldade em dialogar, o autoritarismo, a incompetência e vontade de apelar para a solução mágica da pancadaria —tudo amparado na blindagem obscena dos suspeitos de sempre.