Mad Men e Breaking Bad são duas das melhores séries jamais produzidas para a televisão e têm dividido as atenções do Emmy. Neste ano, a primeira tem 17 indicações e a segunda 13. Para além da excelência do roteiro, da cenografia, da filmografia etc, há um aspecto que as aproxima e que é o maior responsável pelo sucesso: os dois personagens centrais, o publicitário Don Draper e o professor de química Walter White. Ambos têm um passado obscuro, do qual tentam se livrar, mas que os persegue cruelmente. Ambos pagarão pelos seus crimes.
Don Draper é bonitão e virou um ícone fashion com seus ternos slim fit e seu cabelo mais impecável do que o de um boneco de cera, em oposição ao visual tiozinho de Mister White, cujo toque de elegância é um chapéu barato de gangster na careca de quimioterapia. Mas eles têm muito em comum: gênio ruim, mulheres mandonas, filhos com problemas, chefes sacanas, colegas que tentam puxar seu tapete, um funcionário que vira protegido e uma ambição suicida.
Bryan Cranston (White) ganhou três vezes seguidas o Emmy. Jon Hamm (Draper) ainda não levou nenhum (Mad Men, no entanto, é mais premiada do que Breaking Bad). Estão muito bem servidos de atores coadjuvantes. Roger Sterling (John Slaterry) é o típico playboy dos anos 60, mulherengo, afável e irresponsável. Mas fica no chinelo perto de Gustavo Fring, o mafioso chileno de sexualidade duvidosa capaz de degolar um fiel subordinado apenas para reforçar seu ponto de vista. Giancarlo Esposito é a prova de que, para ser mal, você não precisa berrar como nas telenovelas. Peggy Olson (Elizabeth Moss) é a talentosa protegida de Draper, redatora na agência, dona de seu nariz, feia simpática. Perde para Jesse Pinkman (Aaron Paul), um loser sem talento nenhum, mas um coração de ouro e uma coleção de bordões irresistíveis (“Biiiiitch!”).
Hamm e Cranston são, também, um símbolo da superioridade das séries de televisão sobre o cinema. Pegue a última edição do Oscar. Qualquer um destes personagens é mais rico em nuanças e contradições do que o sujeito de O Artista. Enquanto o cinema se infantilizou, em busca de bilheteria, os seriados ficaram complexos e adultos. Vale também para as comédias, como Nurse Jackie e Modern Family, que arrancam gargalhadas ao mesmo tempo em que, eventualmente, fazem pensar.
Entre Cranston e Hamm, eu fico com o primeiro. Hamm é um canastrão, basicamente — embora, para o papel que representa, isso tenha se tornado uma luva. Repare em seu suspiro permanente em momentos de tensão. Cranston é patético, amedrontador, engraçado ou insípido sempre que preciso. Num duelo filmado por John Ford no meio do Arizona, acho que Jon Hamm sacaria primeiro — mas, distraído com o cabelo que lhe cairia nos olhos, erraria o alvo. Enquanto agoniza, só lhe restaria repetir o que Mike Ehermantraut disse para um tagarela Walter White: “Cale a boca, Walter, e deixe-me morrer em paz”.