De Jean Wyllys, no Facebook:
Digam-me se não se trata de atitude de canalhas oportunistas que estão pouco se lixando para o bem-estar dos brasileiros e brasileiras e mais preocupados em usurpar um governo que perderam em eleições limpas e democráticas? Digam-me se não se trata de atitude de golpistas?
Há pouco mais de uma semana, parlamentares dos partidos de oposição de direita – PSDB, DEM, Solidariedade e PPS – que haviam votado em Eduardo Cunha para presidente da Câmara Federal e o empoderado em acordos subterrâneos contra as matérias de interesse do governo Dilma e na tramitação das chamadas “pautas bombas”; há pouco mais de uma semana, estes parlamentares que estavam em conluio com Eduardo Cunha até mesmo depois do surgimento de suas contas na Suíça – constituídas mediante corrupção passiva, lavagem de dinheiro (inclusive numa igreja evangélica) e evasão ilegal de divisas – decidiram, após um apelo dramático (no sentido teatral) da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), marchar pelos corredores da Câmara até o Conselho de Ética para pedir a admissibilidade do processo de cassação de Cunha naquele colegiado.
Na ocasião, eu fiz questão de me afastar deles! Recusei-me a ser fotografado ao lado de gente que, até aquele dia, estava conspirando com Eduardo Cunha, inclusive contra essa mesma representação no Conselho de Ética (feita por nós do PSOL e pela Rede Sustentabilidade) que, naquele momento e providencialmente, eles queriam ver admitida. Deram entrevistas aos jornais e telejornais sempre dispostos a lhes dar tribuna e dispararam frases de efeito contra o presidente da Câmara (já combalido junto à opinião pública) como se não soubessem que este vinha prevaricando e abusando das prerrogativas do cargo para salvar a própria pele.
A mudança repentina dos parlamentares do PSDB, DEM, PPS e também de algumas facções do PMDB em relação a Cunha se deu em decorrência da indecisão deste em relação a dar início ao processo de impeachment da presidenta Dilma. A oposição de direita (mais notadamente o PSDB) – que passou a falar em impeachment um dia depois do resultado das eleições presidenciais e que pediu auditoria das urnas eletrônicas bem como recontagem de votos (para obter, do TSE, a resposta de que as eleições foram limpas e seguras) – queria que Cunha lhes desse o início do processo do impeachment em troca de todo apoio que lhe dera até então; mas como o presidente da Câmara estava ao mesmo tempo usando o impeachment para chantagear o governo Dilma na esperança de escapar da cassação (e da prisão!), os parlamentares do PSDB, DEM e PPS decidiram se voltar contra ele e defender que o Conselho de Ética admitisse o processo de sua cassação.
Bom, com os acontecimentos da última semana – a bancada do PT anunciando que também votaria pela admissão do processo de cassação de Cunha e este, numa reação vingativa, dando, ao fim e ao cabo, início ao processo de impeachment da presidenta Dilma – a oposição de direita esqueceu-se do teatro de quinta categoria que fizera uma semana atrás e hoje voltou a conspirar com Eduardo Cunha.
A sessão plenária convocada às pressas para as 18h de hoje, e na qual se elegeriam os membros da Comissão Especial que analisará o pedido de impeachment da presidenta, não aconteceu porque Eduardo Cunha, o PSDB, o PPS, o DEM e o Solidariedade (leia-se Paulinho da Força, réu no STF por corrupção) não gostaram das indicações feitas pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Cunha et caterva consideraram a comissão “chapa branca” e então decidiram abortar a sessão de hoje para terem tempo de conspirar e de usar se sabe lá quais métodos para que outros pró-impeachment sejam indicados no lugar dos atuais.
Se isso não for um tentativa de golpe branco, o vocabulário político precisa ser revisto com urgência! A oposição de direita não é só ressentida, fracassada e sem projeto (e por isso mesmo simpática ao “tapetão”): ela é egoísta e insensível, pois foi capaz de colocar o país à beira do abismo institucional durante todo ano para satisfazer a seus interesses pessoais, prejudicando sobretudo a população mais pobre do Brasil. Canalhas!
Vejam a foto do plenário quase vazio tirada há pouco. Nela, Chico Alencar, Alessandro Molon e eu aguardamos a sessão que não aconteceu. E só de me lembrar que eu deixei de participar da abertura do Emergências no Rio de Janeiro – evento político-cultural importantíssimo construído com emenda destinada por mim – para vir para essa sessão, minha raiva da oposição de direita só aumenta.
Se o governo Dilma é indefensável por tudo que cedeu ao mercado financeiro e aos conservadores, mais indefensável é um processo de impeachment conduzido por essa gente: Eduardo Cunha e parlamentares do PSDB, DEM, PPS e Solidariedade. Quem se mistura com um corrupto sociopata como Eduardo Cunha há de comer os farelos que lhe esperam!