Bispo de SC peita a CNBB, critica PL do Aborto e cobra educação sexual nas escolas

Atualizado em 18 de junho de 2024 às 23:57
Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC). Reprodução

O bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, declara que o projeto de lei que equipara o aborto após 22 semanas ao crime de homicídio, incluindo em casos de estupro, é “uma distorção da realidade”.

“Simplesmente punir a mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É uma precipitação legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e vasto”, diz o religioso, um dos mais respeitados da Igreja Católica.

Ele argumenta que o momento para a análise do tema pela Câmara dos Deputados, em regime de urgência, também é inapropriado. “Uma questão complexa como o aborto não pode ser debatida às vésperas de uma eleição. Qual é a motivação desses políticos que defendem essa proposta?”, pergunta dom Angélico.

A visão do bispo difere da adotada pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), que apoiou a aprovação do projeto. “Não sou juiz da CNBB. Mas a minha posição é esta”, afirma.

Anteriormente, ele foi bispo auxiliar de dom Paulo Evaristo Arns em São Paulo e esteve envolvido com a Pastoral Operária nos anos 1970. Naquela época, aproximou-se de Lula (PT), batizando os filhos do atual presidente e celebrando seu casamento com Janja em 2022, entre outros eventos religiosos da família.

Dom Angélico celebrando o casamento do presidente Lula com Janja. Foto: Ricardo Stuckert

“O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo”, afirma ele. No caso de mulheres estupradas que engravidam e fazem aborto, diz, a situação se agrava. “A pessoa jamais poderia ser punida, porque é vítima.”

Para dom Angélico, “chegou o momento de focarmos nesta problemática de maneira global, e não somente de criarmos leis para aumentar a punição”.

Ele considera “urgente que as escolas, as famílias, as igrejas e toda a sociedade proporcionem a educação sexual e afetiva do homem e da mulher, baseada na ciência, na boa informação”.

“Não podemos prender mulheres antes de darmos a elas, e também aos homens, uma formação sexual e afetiva sólida”, continua. “É lamentável como isso ainda não seja incluído na nossa formação.”

“A educação sexual deveria ser prioridade na escola, na pastoral, na catequese, na família. Da infância à velhice”, afirma. “A mulher, por exemplo, é uma pessoa aos 20 anos, e outra quando amadurece, ao passar pela menopausa.”

“O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo”

Dom Angélico usa seu próprio exemplo: aos 91 anos, ele diz, “nunca recebi formação específica sobre sexualidade. Nem quando era menino, nem quando era adolescente, nem na andropausa e na velhice”.

Ele menciona que o projeto, do deputado evangélico Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), tem “um lado bom porque todos devemos ser contra o aborto”.

“O aborto deve seguir proibido. É crime, porque mata uma criança”, prossegue. O problema é encarcerar as mulheres de forma indiscriminada quando elas “muitas vezes são as vítimas”.

“É preciso ver caso a caso. O que levou essa menina, essa mulher, a ter relação sexual? Qual é a vida afetiva e familiar dela? Que educação ela recebeu? Muitas são estupradas dentro de suas próprias casas”, diz ele.

“Nunca houve educação. Sempre foi aquela coisa de ‘é proibido isso, é proibido aquilo'”, comenta. “A masturbação, por exemplo, era proibida, era um pecado. Hoje, o catecismo diz que cada caso deve ser examinado por considerar que muitas vezes a pessoa é levada a isso por questões psicológicas.”

“A gente tem que evoluir, e não ficar somente apegado à punição das pessoas”, conclui o bispo.

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