O que é e o que quer a Frente Nacionalista, o grupo brasileiro declaradamente fascista

Atualizado em 16 de dezembro de 2015 às 11:24
Os integrantes da FN
Os integrantes da FN

Publicado na DW.

 

Parece a Itália de 1920, mas é o Brasil de 2015. Na esteira da crise política que tomou conta do governo Dilma Rousseff (PT), um movimento intitulado Frente Nacionalista (FN) decidiu se inspirar nos ideais defendidos por Benito Mussolini para conquistar adeptos, sobretudo aqueles mais decepcionados com a política tradicional. Apesar do discurso aparentemente brando – “não somos de esquerda, nem de direita; somos a terceira posição” – e da rejeição a “rótulos”, como os de nazista e racista, a FN traz, em seu programa, todos os elementos do fascismo: a veneração ao Estado, a devoção a um líder forte, o combate ao “perigo comunista” e a ênfase ao ultranacionalismo.

Criada em abril de 2015, a entidade já possui mais de dois mil filiados. Segundo o seu presidente, Cristiano Machado, o objetivo é juntar documentos e assinaturas para se tornar um partido político, podendo assim disputar eleições. Entre as bandeiras defendidas estão a redução da maioridade penal para 15 anos, a privatização do sistema penitenciário, a prisão perpétua, a pena de morte para corruptos, o fim da imigração, a criminalização de símbolos comunistas e a retomada dos programas de autonomia nuclear. “Combater o consumismo/hedonismo, o ateísmo e o pós-humanismo, as ideologias de gênero, a segregação indígena em reservas, o ambientalismo radical e o pacifismo, bem como todos os vícios da modernidade é a missão principal da frente”, diz trecho da página na Internet.

No último sábado (12/12), a FN realizaria um congresso de fundação para mil pessoas nos arredores de Curitiba (PR) – uma das poucas cidades brasileiras onde, em 1955, Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração fascista, foi o candidato mais votado no pleito à Presidência da República, com 39,76% dos votos, contra os pouco mais de 8% recebidos em âmbito nacional.

Mas, assim como na França, a iniciativa da Frente Nacionalista Brasileira assemelhou-se ao “voo da galinha”. A mobilização de organizações de direitos humanos, que alertaram a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná, o Ministério Público (MP) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre possíveis confrontos, porém, acabou inibindo os organizadores, levando-os a adiar o encontro para 2016, em data ainda a ser divulgada. Durante todo o fim de semana, cartazes antinazistas foram colados pela cidade e boatos sobre enfrentamentos circularam via redes sociais.

Um grupo de 43 organizações do Estado emitiu uma carta aberta demonstrando preocupação com a presença da FN. “Este tipo de ideologia massacra pessoas com pensamentos diferentes ou que não concordam, aniquila determinados setores da sociedade, como pessoas LGBT, pessoas negras, população de rua, ciganos/as, pessoas judias, imigrantes e refugiados, entre outras”, argumentaram. As instituições pediram que os cidadãos denunciassem casos de discriminação às autoridades. Os setores de inteligência da PM e da Polícia Civil foram encarregados de permanecer em alerta.

Machado se recusou a conceder entrevista, dizendo apenas que chamará, nos próximos dias, a imprensa, a OAB, o MP e o “ativismo gay para uma conversa pública e esclarecedora”. Em nota, ele informou que o adiamento se deu “em razão do clima hostil de alas esquerdistas radicais”. “Um enfrentamento com esses grupos durante o evento, ainda que provocado por eles, mancharia nossa imagem e serviria apenas para fortalecer a esquerda no momento em que o Congresso procura derrubar a presidente do Palácio do Planalto”, escreveu.

A FN diz não apoiar qualquer tipo de perseguição. Navegar pelos fóruns de discussão da frente, contudo, é se deparar com textos, imagens e vídeos de incitação ao ódio, geralmente seguidos de um “Anauê”, que é a típica saudação integralista.

Citações de Mussolini e de Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração fascista, também são recorrentes. Há dois meses, eles selaram o que chamaram de “aliança de cooperação mútua” com os skinheads “Carecas do ABC”, acusados de envolvimento em atos de violência contra LGBTs (sigla usada para se referir a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) em São Paulo.