Por que para o PSDB é bom que Serra perca

Atualizado em 25 de setembro de 2012 às 10:02
Serra

Jamais militei em nenhum partido. O jornalismo consumiu todos os meus esforços e interesses. Meu trabalho jornalístico poderia ficar comprometido se eu não mantivesse distância e isenção.

Mas votei no PSDB mais do que em qualquer outro partido em minha vida adulta. Entendo que o PSDB teve uma monumental contribuição ao país com a derrota que FHC impôs à inflação. A estabilização foi o marco zero do avanço econômico e social recente do país. Lula teria feito muito menos do que fez se herdasse uma economia corroída por elevações de preços diárias.

Deixei de votar no PSDB quando o partido, depois de FHC, ficou sem causa e sem bandeira que não fosse a causa e a bandeira de Serra.

O PSDB, antes, falava para uma parcela expressiva da classe média incomodada com a iniquidade social traduzida na miséria de tantos brasileiros.

Me incluo naquela parcela.

Sob Serra, a conexão foi perdida. No PSDB de Serra não existe o conceito de “justiça social”, como se se tratasse de uma bobagem, de uma tolice de sonhadores – e não do tema que galvaniza as discussões nos países mais desenvolvidos.

Estudos sérios e variados mostram a monstruosa concentração de renda que se deu no mundo nos últimos trinta anos. A célebre receita de Margaret Thatcher – desregulamentação, corte em programas sociais – acabou se provando simplesmente insustentável.

Levou a economia mundial a uma crise tenebrosa, e criou um drama social que se expressa em movimentos de protesto que vão dos “99%” dos Estados Unidos aos “indignados” da Espanha.

Modelos alternativos passaram a ser buscados com o fracasso miserável do thatcherismo. Os olhos do mundo estão fixados no vitorioso sistema escandinavo e no fenômeno chinês, ambos infinitamente mais igualitários e generosos – e bem sucedidos a longo prazo — que o thatcherismo.

O PSDB de Serra parece viver, ainda, na era Thatcher. Não se renovou, não se reinventou. Não fez a lição de casa – entender o que está acontecendo no plano internacional e buscar novas idéias e novas propostas.

Ficou atado ao universo das ambições de Serra e, com Serra, ficou bizarramente obsoleto. Não captou o zeitgeist, a grande palavra alemã que designa o espírito do tempo. Na última campanha presidencial, o ponto alto do descolamento de Serra com os novos tempos se deu quando ele, num oportunismo patético, afirmou que dobraria o Bolsa Família. Serra achou que sua completa falta de sensibilidade social se resolveria com uma blefe daquela natureza.

O PSDB tem dois caminhos. Um é, como Serra, ir diminuindo, e diminuindo, e diminuindo – até desaparecer.

O outro é, sem Serra, lutar pela vida – o que significa tentar encontrar espaço no mundo contemporâneo. Tentar compreender o conceito de justiça social, e reatar contato com tantos eleitores seus que não desejam um país tão iníquo.

Para que a segunda alternativa tenha chances de dar certo, caso seja ela a opção do PSDB, é imperioso que Serra seja derrotado nas eleições municipais de São Paulo.