No último dia 21, Chico Buarque foi provocado por um grupo de jovens que o insultavam por sua constante militância política:
“Petista, vá morar em Paris. O PT é bandido”
Sem alterar o tom de voz, Chico respondeu:
“Eu acho que o PSDB é que é bandido.”
E fim. Nenhum insulto, nenhum escândalo, nada que contradiga a personalidade pacífica – e não menos ativa do imortal artista brasileiro.
Chico Buarque é um verdadeiro mito da música e da militância. Um dos grandes artistas que burlaram a ditadura – como esquecer a genial Jorge Maravilha, que, reza a lenda, referia-se à filha do ex-presidente Ernesto Geisel?
É um artista brasileiro que jamais será esquecido. É aquele que já escreveu a sua história e ajudou – ainda ajuda, ao que nos parece – a escrever a história política de seu país. Ele definitivamente não precisa provar nada a ninguém.
Não precisa consumir os próprios neurônios discutindo com meia dúzia de jovens que provavelmente não têm a menor ideia do que estão dizendo. Não precisa, definitivamente, estragar o próprio jantar preocupando-se com os impropérios de quem – francamente! – não deveria sequer ter a pachorra de se dirigir a ele.
Chico não precisou levantar a voz para os fascistas que o abordaram na saída de um restaurante. Há pessoas que não merecem o nosso latim. É como jogar pérolas aos porcos, como diria a minha avó.
Nenhum grito vazio em pleno Leblon falaria mais do que a genial letra de “Cálice.” Nenhum insulto odioso seria mais didático que “Acorda amor”. A obra de Chico fala por ele. Do mesmo modo, o nosso discurso – sutil, elegante, calmo – fala por nós.
Chico me convenceu, mais uma vez, de que não precisamos consumir a nossa tranquilidade com bolsomitos e Sheherezades: a coerência está ao nosso lado e fala por nós. E é inútil tentar convencer quem não quer construir absolutamente nada além do alvoroço.
Guardemos a nossa energia para discutir com quem possa, ainda que minimamente, nos agregar algo. E que todo o resto jamais nos tire a calma.