A nova série “Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim”, na Netflix, alerta para risco de repetição histórica mostrando a ascensão de Adolf Hitler e do nazismo. Traça a trajetória do ditador desde sua infância em Braunau am Inn, na Áustria, com trechos colorizados e áudios originais do Julgamento de Nuremberg.
Série com seis episódios, utiliza material de arquivo sobre o Terceiro Reich e reconstituição de episódios históricos encenados por atores.
Quem conduz a narrativa é o jornalista William L. Shirer (1904-1993), um dos poucos correspondentes dos EUA que cobriram a Alemanha no período da ascensão do regime até o final. Ele é o autor do seminal “Ascensão e queda do Terceiro Reich”. “Ele tinha uma posição especial porque era um dos poucos correspondentes que estavam na Alemanha nazista em todos esses momentos cruciais, testemunha ocular dos fatos”, disse o diretor do documentário, Joe Berlinguer.
“E ele foi uma das primeiras pessoas a nos alertar para os perigos do que aconteceu. Você não pode contestar uma testemunha ocular, e temos depoimentos de testemunhas oculares ao longo da série. Então, todas essas coisas meio que se juntaram tematicamente”.
Cada capítulo da série um momento específico da história, de seu protagonista Hitler, personagens e passagens significativas. “Há certas coisas que são visuais que se comunicam de maneira que você não pode obter apenas ouvindo alguém falar. No quinto episódio, fizemos a escolha ousada de recriar o Babyn Yar, o “Holocausto por balas” em que 30 mil judeus foram assassinados fora de Kiev. [Os tiroteios colocaram] tanto estresse emocional nos soldados alemães que eles decidiram que atirar é muito complicado – e foi isso que levou à decisão de matar judeus e outros em câmaras de gás no Holocausto”, afirma.
“Se você apenas ouvir alguém explicar isso e você está olhando para imagens antigas arranhadas, isso simplesmente não chega da maneira que o cinema pode entregar. Então, nós o recriamos, há um certo nível de narrativa visual que comunica certas coisas que você nunca consegue em uma entrevista.”
No documentário, temos reflexões posteriores de alguns especialistas que traçam paralelos entre Hitler e Trump. “Há paralelos entre apelar para um público branco sem direitos, alfinetando os bons velhos tempos. E há o paralelo de quão perto chegamos de perder nossa democracia, que algumas pessoas ainda não conseguem. Na série, vemos como Hitler assumiu o poder, com bastante facilidade. Primeiro, ele tentou o Putsch da Cervejaria, e quando a revolução pura não ia funcionar para ele, ele percebeu que tinha que desmantelar o sistema por dentro. E o fez muito rapidamente. Ele não deu um golpe violentamente. Ele convenceu o parlamento a tirar seus próprios poderes. Ele usou o fogo do Reichstag para fechar as liberdades civis”, lembra.
“Mesmo eu – que fiz uma série de seis episódios sobre a ascensão de Hitler e aproveitei todas as oportunidades da edição para jogar uma lanterna sobre semelhanças com os dias de hoje – acho que é uma ladeira muito escorregadia dizer que a história vai se repetir. Mark Twain falou em ‘rimas da história’, mas não acho que você terá uma versão americana da Gestapo correndo por aí e uma quebra tão sombria em direitos básicos.”
O documentário acende um sinal amarelo aos democratas e progressistas legalistas sobre a eminente candidatura e vitória de Trump nos EUA e o fortalecimento de seguidores fanáticos de seus filhotes bastardos sul-americanos, como Bolsonaro no Brasil e Milei na Argentina.
Alguns historiadores repetem que Hitler apostava na fantasia de “Faça a Alemanha Grande de Novo”, prenúncio de “Faça a América Grande de Novo”, o o lema trompista.
“Já temos uma desconfiança nas instituições que acho que a era Trump ajudou a gerar. Zcreditamos em um homem forte. Já nos alteramos. Quero dizer, esse é o problema com o tipo de retórica que Trump normalizou, é que nos dividimos em dois campos que se odeiam e nos desumanizamos. E não se pode ter democracia quando não há um sentimento de bem coletivo”, declara.
“Então, eu acho que a democracia está sob ataque. Acho que se, Trump ganhar novamente, veremos a democracia desmoronar ainda mais, teremos mais erosão no respeito básico uns pelos outros, e falta de crença em nossas instituições. Mas não acho que haverá camisas pretas na Quinta Avenida. Em algum outro lugar, talvez”, afirma Berlinger.
O cenário mundial de recrudescimento das relações entre políticas de inclusão de miseráveis e sua antítese, como o fechamento de fronteiras, protecionismo econômico e demonização de conceitos básicos de civilização são um belo caldo de cultura para personagens como Trump e Benjamin Netanyahu em Israel.