Você conhece.
Certos jogadores de futebol fingem ir para uma dividida, mas na verdade correm numa velocidade calculada para não chegar à bola e, portanto, não arriscar a canela. As aparências ficam resguardadas.
Marcelinho Carioca era um mestre nisso.
É mais ou menos esta a tática que a grande imprensa utiliza para cobrir, ou fingir cobrir, assuntos delicados de seus protegidos.
Muitos leitores não percebem.
Um caso típico foi a denúncia segundo a qual Aécio recebeu propina de uma empreiteira.
Jornais e revistas fingiram cobrir.
Você faz o seguinte: dá num lugar de pouco destaque, ou nenhum. E depois simplesmente esquece. Não há nenhum empenho em realmente investigar o assunto.
Compare, agora, com o que acontece quando a denúncia recai sobre alguém de quem a mídia não gosta, como Lula. O assunto demora uma eternidade para sair das páginas dos jornais, alimentado por supostas novidades, frequentemente não comprovadas.
Um exemplo disso é o “Amigo do Lula”, uma cobertura que já se tornou piada nas redes sociais, tais os disparates editoriais associados a ela.
Lula, na ótica das companhias jornalísticas, é para matar. Aécio, para ser protegido.
A Folha deu discretamente, quase que envergonhadamente, a acusação contra Aécio.
O que ela fez depois para avançar na história? O acusador era um certo Ceará. Se tivesse qualquer intenção de fazer jornalismo, a primeira coisa que a Folha teria feito, em seguida, era um perfil sobre Ceará.
Exige algum esforço. Não é uma informação que a PF vaza ao repórter num telefonema. Mais importante: demanda o mínimo de imparcialidade.
A repercussão dos demais jornais seguiu o mesmo caminho da Folha. Poucas linhas escondidas, e num período em que poucos leem jornais, o final do ano, e depois nada.
Fim de história.
Como o jogador que finge não fugir da dividida, os jornais fingem não fugir da notícia indigesta. Mas tudo não passa disso: fingimento.
Trabalhei muitos anos em redações das grandes empresas jornalísticas e sei muito bem como se destaca ou como se esconde uma notícia.
A internet vem desmascarando esse tipo de trapaça jornalística, mas os donos de jornais e revistas e seus editores parecem não ter se dado conta disso. E continuam em sua simulação enganosa, como nos velhos tempo em que monopolizavam as informações e as opiniões como se fossem isentos.
É como se, no futebol, uma nova tecnologia mostrasse com clareza a velocidade reduzida de um jogador perante uma dividida em que ele não queira chegar.
O truque acabaria. Mais canelas seriam arriscadas, ainda que contra a vontade de certos craques.
No jornalismo, a internet é esta nova tecnologia que aponta casos em que a imprensa finge cobrir, como a propina alegadamente passada a Aécio.
Mas mesmo assim jornais e revistas continuam a tentar enganar as pessoas. Você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo, como diz a célebre sentença política.
Mas a imprensa brasileira, em sua obtusa ignorância, acha que, sim, pode. O drama, para ela, é que é cada vez menor o número de pessoas que fingem acreditar no noticiário