*Tradução de Charles Nisz
A Bloomberg, um dos principais meios de notícias econômicas dos EUA, analisou o comportamento do mercado contra Lula nesta semana.
“O mercado precisa de uma caipirinha e um calmante”, diz o título do artigo do colunista Juan Pablo Spinetto, editor do site para a América Latina.
Por trás disso está a crescente suspeita entre os investidores de que será necessário um esforço para que a maior economia da América Latina equilibre as suas contas.
“Lula joga duro com os mercados, mas há uma reação exagerada sobre o risco fiscal do Brasil no curto prazo”, escreve Spinetto. O real despencou e tem o pior desempenho entre as moedas dos países do G-20 em 2024. “Alguns falam numa minicrise brasileira”, resume o colunista da Bloomberg.
Apesar dos esforços do Ministro da Fazenda, é pouco provável que o Brasil atinja o déficit zero. Analistas esperam um déficit total de 7,2% em 2024 e de 6,4% em 2025. Ruim? Sim. Sinal de uma crise iminente? “Nem de longe”, afirma o analista.
Conforme Spinetto, “a preocupação é a trajetória insustentável da dívida nacional num país onde uma miríade de direitos constitucionais e compromissos políticos consomem a maior parte das despesas do governo”. Em abril/2024, a dívida bruta do governo atingiu 76% do PIB, a taxa mais elevada desde 2022.
O assunto tem sido discutido em jornais e na TV nas últimas semanas. Para Cláudio Andrade, gestor de US$ 600 milhões no fundo Polo Capital, isso é um bom sinal. “Após um aumento de gastos em 2024, atingimos o teto dessa gastança em 2024. O país não tolera isso”, diz Andrade.
“Ele está entre uma minoria de investidores que não se alarma por causa dessa volatilidade. O conflito entre pouco espaço fiscal e um presidente com ambições de realizar políticas públicas também ocorre na França, na Colômbia e no México. Mas o Brasil tem fatores positivos – mais de US$ 350 bilhões em reservas internacionais, a dívida do país está em moeda nacional e balança comercial muito positiva”, enumera Spinetto.
“Seria ótimo se Lula dissesse que perseguirá o déficit zero a qualquer custo. Mas isso é uma ilusão, pois Lula sempre foi visto como um homem do povo, favorecendo gastos públicos maiores. Essa semana, Lula disse que concorrerá em 2026 para impedir os trogloditas da oposição de voltar ao poder”.
A disputa deve ser entre Lula e um direitista com ideias de encolher o estado. Lula já escolheu seu canto no ringue e seu rival deve ser o bolsonarista Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Não é fácil vencer eleições prometendo austeridade: a menos que você se chame Javier Milei – e o veredito sobre o argentino ainda não foi anunciado.
“De acordo com as pesquisas, Lula permanece popular. Mas para conquistar um inacreditável quarto mandato, Lula precisará colocar o gênio do déficit de volta na garrafa. Podemos esperar discursos conflitantes: Lula irá dizer que os mercados e os ricos devem pagar essa conta, enquanto Haddad tentará cortar gastos sem afetar muito os pobres”, resume Spinetto.
“Não espere qualquer ajuste fiscal drástico. Vamos continuar na mesma toada: o Brasil crescerá aceitáveis 2%-3% ao ano, melhor do que algumas estimativas, mas ainda pouco para um mercado com tanto potencial. A inflação manterá os juros elevados e o governo tentará equilibrar políticas sociais e prudência fiscal. Será suficiente para Lula ganhar em 2026?”