juro: : ñ vou brigar + c/ essa ideia d jornal ser fdp e só publicar dum lado.Dane-se.A escolha agora é essa. Aqui se despede o idiota q achou q jornal é feito p/ relatar minimante a realidade. aqui morre o ex repórter com essa crença. Talvez nunca tenha sido… Nunca foi, mas acreditei e fui repórter com essa crença.
Poucos textos retratam tão pungentemente o estado miserável do jornalismo brasileiro como este de Xico Sá, postado neste final de semana no Facebook.
Mais que uma simples postagem, é um manifesto, um desabafo, um grito de angústia e de impotência.
Desde que saiu da Folha, depois que o proibiram de escrever em sua coluna um texto de apoio a Dilma, Xico Sá se tornou um dos mais vigorosos críticos da imprensa.
Foi como se ele tivesse acordado, enfim, para uma realidade que já não era nova.
Muitas vezes você tem que se afastar do ambiente tóxico das redações das grandes empresas jornalísticas para poder enxergar o horror noticioso que se produz ali.
A frase mais tocante de Xico é aquela em que ele admite que sua visão idealista de jornalismo – relatar as coisas como ela são – não tenha sido mais que uma ilusão.
Ele como que se sentiu traído. O objeto de sua paixão, o jornalismo, subitamente lhe pareceu um monstro.
Sou da mesma geração de Xico. Assim como ele, me decepcionei profundamente com o jornalismo das corporações.
E me fiz a mesma pergunta já faz tempo: foi sempre essa coisa abjeta? Joguei fora tantos anos de minha vida para alimentar uma indústria interessada em saquear o Brasil e manipular os brasileiros?
A resposta é não.
O jornalismo brasileiro nem sempre foi indecente. Ao longo da história, havia duas forças que se contrapunham nos jornais e nas revistas. Surgia daí um atrito positivo do qual resultava um conteúdo rico, plural, complexo.
Uma força era a dos donos, conservadores. A outra era a dos chefes das redações, habitualmente progressistas.
Dois exemplos se destacam. A Folha nos tempos em que era dirigida por Claudio Abramo e a Veja quando editada por Mino Carta. Claudio e Mino funcionavam como contrapontos aos Frias e aos Civitas. Nestas condições, a Folha foi um grande jornal e a Veja uma grande revista.
O equilíbrio se perdeu quando Lula ascendeu ao poder. Os donos da mídia aparelharam seus veículos. Não havia mais lugar para Claudios Abramos ou Minos Cartas como diretores de redação.
O passo seguinte foi aparelhar também as colunas. Foram sendo afastados colunistas de esquerda. E se multiplicaram os colunistas que escrevem o que os patrões querem que seja publicado.
O primeiro caso notável foi o de Diogo Mainardi na Veja. Na mesma Veja, logo depois surgiu, no site, Reinaldo Azevedo.
Os espaços, na mídia toda, foram rapidamente ocupados por equivalentes de Mainardi e Azevedo. De Villa a Sardenberg, de Constantino a Augusto Nunes, de Setti a Noblat, foi uma enxurrada de colunistas patronais.
Perdeu-se o debate. Perdeu-se o equilíbrio. Perdeu-se a pluralidade.
No lugar disso tudo, emergiu o jornalismo ao qual Xico Sá se refere.
Mas Xico não deve se entregar a sentimentos depressivos. Se ele parar para refletir em sua carreira, vai ver que nunca escreveu coisas tão importantes quanto estas que tem publicado nas redes sociais sobre a mídia.
A posteridade, quando for examinar o papel da imprensa nestes tempos, vai ter uma preciosa fonte de informações em Xico Sá.