Dados da Estação Meteorológica da Universidade de São Paulo (USP) mostram que as ondas de calor são cada vez mais frequentes na cidade de São Paulo. A capital paulista tem registrado um aumento significativo das altas temperaturas na última década, inclusive em meses de outono, quando se espera um clima mais ameno. Desde 1933, a temperatura média na cidade subiu 2,5ºC, conforme as medições da estação do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), que completou 90 anos em 2023.
Relatórios apontam que, desde 2010, a frequência de temperaturas acima de 35ºC tem sido cada vez maior. Antes desse período, essas temperaturas eram registradas apenas de 4 a 5 vezes a cada cinco anos. Entre 2015 e 2020, a estação registrou 29 ocorrências de ondas de calor, e desde 2020 até agora, foram 22 registros de temperaturas acima da média para a época.
O professor Carlos Morales, do IAG, destaca a influência da urbanização na mudança climática local. “A estação meteorológica acaba observando a história. Ela nos diz o que está ocorrendo ao longo desse período”, comentou em entrevista ao Estadão.
“Observamos, ao longo desses mais de 90 anos, o aumento gradativo da temperatura, que começou bem pequenininho e foi subindo. Tivemos um aumento sistemático da temperatura média diária e a máxima principalmente, mas mudanças também nas temperaturas mínimas. Por exemplo, São Paulo já não está ficando tão frio como era antes”, completou.
Morales também explicou que o aumento das temperaturas em São Paulo é causado tanto por fatores naturais quanto por ações humanas. “As mudanças climáticas na verdade são um fenômeno meteorológico que está associado a alterações no clima. Essas alterações climáticas podem ser naturais e antrópicas”, disse.
Ele observa uma mudança na tendência das temperaturas a partir de 2010. “A partir de 2010, notamos que a tendência da curva mudou. Antes, a cada dez anos, o aumento na temperatura era de 0,25ºC. A partir de 2010 ela ficou um pouco maior, começou a aquecer um pouco mais. As temperaturas acima de 30ºC, 35ºC, que a gente observava poucos dias no ano, começaram a ser muito mais frequentes.”
O aumento das temperaturas também tem impacto na frequência de chuvas. Na década de 1930, a precipitação média anual em São Paulo era de 1.100 mm. Atualmente, essa média subiu para 1.600 mm.
“Se eu coloco mais água numa região, eu estou tirando água de uma outra região. Porque tudo está em balanço. A quantidade de vapor d’água é constante no planeta inteiro, ela não aumenta nem diminui. Nas mudanças climáticas, é esse o efeito. Ora você aumenta a temperatura numa região e ora, em outra região, você vai ter uma temperatura bem mais fria”, esclarece Morales.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, publicou recentemente um relatório indicando uma probabilidade de 80% de que a temperatura média global exceda temporariamente 1,5ºC durante pelo menos um dos próximos cinco anos, comparado ao período entre 1850-1900.
Morales acredita que ainda é possível reverter parte do superaquecimento global. “Se a gente diminuir os gases do efeito estufa, mudar nossa matriz energética, vamos poluir menos e melhorar a saúde da população. É mais fácil ensinar a geração nova, que está na escola hoje, para que no futuro impeçam os antigos de ficarem no poder e fazer as mesmas coisas. Eles terão o desafio de mudar esses efeitos, são eles que terão que cobrar lá na frente”, afirmou.
Na entrevista, o professor também reforçou a importância da continuidade das observações climáticas e do papel dos governos e da sociedade em apoiar as instituições que realizam esse trabalho.
“As observações precisam ser continuadas. Essas observações estão na mão de governos. É importante que os governos e a sociedade mantenham as instituições que realizam esse trabalho, disponibilizem recursos. Se não tiver o dado, não dá para fazer nada, nem para mensurar nada sobre o assunto. As projeções dependem dos dados”, finalizou Morales.
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