A desculpa para a PM bater, agora, é o trajeto. Por Mauro Donato

Atualizado em 22 de janeiro de 2016 às 13:23

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Vinte e uma detonações de bombas de efeito moral em 37 segundos. Após a irredutibilidade, o número de feridos foi alto. Além das marcas características das explosões, o asfalto ficou manchado também com muito sangue.

Até quando a polícia irá insistir em querer comandar tudo? Ela passou a exigir que o trajeto seja divulgado previamente e, mesmo quando atendida, resolve não concordar com o trajeto. Recebe o roteiro e diz: “Não, esse não gostei”.

Ainda na concentração no terminal Dom Pedro o recado oficial era de que a marcha não poderia sair pois o trajeto não havia sido aprovado. Que resultado pode-se esperar ao dar um anúncio de confinamento coletivo desses senão tensão, medo, acirramento de ânimos?

“Isso deixa bem claro que essa história de pedir o trajeto é só uma desculpa para não deixar a manifestação acontecer”, disse Laura Viana do Movimento Passe Livre.

A lembrança muito recente do ocorrido na Praça do Ciclista deixou os manifestantes preocupados e o volume da massa inicial reduziu-se consideravelmente em vista do que estava por vir.

Ainda assim os manifestantes optaram, em assembléia, fazer o percurso original informado às autoridades. O cerco era total, não havia nenhuma saída e a trajédia iminente.

Após o início da caminhada o tenente-coronel muniu-se de um mínimo de bom senso (e também de esperteza, já estávamos em horário nobre de TV e muitos jornalistas das grandes emissoras poderiam fazer entradas ao vivo com cenas repugnantes) e afirmou que garantiria a marcha até a Praça da República, na metade do trajeto proposto pelo MPL. Depois disso, fim.

Na rua Líbero Badaró uma bomba não foi capaz de dissolver o ato e na Praça da República o novo cerco com uma parede de escudos no meio da avenida Ipiranga. O limite. Mesmo que se passasse por aquela barreira, não seria possível prosseguir para lado nenhum.

Muitos e longos minutos de tensão se passaram até que os manifestantes empurraram a barreira de policiais. A partir daí o costumeiro ataque desproporcional ao perigo que pessoas desarmadas podem representar. Desproporcional e a esmo, colocando todos em volta em risco. No último dia 12 o pintor Douglas Ferreira foi ferido no olho por um estilhaço de bomba e as sequelas ainda são desconhecidas. Poderá se tornar mais um cego pela PM.

A polícia agora determina que é preciso avisar, qual roteiro deve ser feito (sim, na assembléia uma das propostas foi a sugerida pelo tenente-coronel Mota, com zero votos obviamente) e qual o ponto final. “Mas terminar ao lado do metrô não é bom para todos?” Seria se o metrô não fechasse as portas.

O artigo 5º inciso XVI da Constituição prevê que ‘todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião previamente convocada para o mesmo local sendo exigido apenas prévio aviso à autoridade competente’. Nada é exigido em relação a trajeto.

“Isso é uma leitura desonesta da Secretaria de Segurança, eles dizem ser inconstitucional e não é. É só mais uma demonstração do tipo de manifestação que é permitido ou não em São Paulo, qual interessa a qual grupo político”, declarou Luiz Guilherme Ferreira dos Advogados Ativistas.

O coletivo manifestou-se pelas redes sociais frente ao ocorrido: “Manifestações não são vinculadas a decisões administrativas de órgãos governamentais. São atos de liberdade, constitucionalmente garantidos, para contestar politicamente um poder público que esteja em desacordo com determinada parcela da população.”

O argumento de organizar o trânsito também encontra opositores. A Relatoria Especial para os Direitos de Reunião Pacífica da ONU afirma que o “fluxo livre do trânsito não deve automaticamente ter preponderância sobre a liberdade de reunião pacífica.”

Resumindo, os carros não são os donos da rua nem do mundo. Mas as autoridades permanecem fazendo ouvidos moucos para o tema mobilidade urbana. Não entenderam ainda o que é ou não querem entender?

 

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