A guerra suja dos taxistas está acelerando a regularização do Uber. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 3 de fevereiro de 2016 às 16:55

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No dia 28 de janeiro de 2016, o presidente do Simtetaxi (Sindicato dos Motoristas nas Empresas de Táxi no Estado de São Paulo), Antonio Matias, divulgou um vídeo que viralizou no Facebook e em grupos de WhatsApp ameaçando o Uber e criticando o prefeito Fernando Haddad.

Por volta das 23h do mesmo dia, a Globo noticiou que os taxistas agrediram motoristas do serviço do aplicativo no Hotel Unique, região dos Jardins em São Paulo.

Naquele mesmo dia, motoristas do Uber foram hostilizados no Anhembi, onde ocorria um evento de tecnologia e festas de Carnaval. Nos Jardins, um Toyota Corolla de um motorista do serviço foi depredado com riscos, além de ter o vidro quebrado, junto de outro automóvel que não era do meio.

“Chega de palhaçada nessa cidade. Agora é cacete, prefeito”, disse Matias no vídeo.

A resposta para as ameaças do sindicato dos taxistas veio rápida. No dia 2 de fevereiro, uma liminar do Tribunal de Justiça de SP passou a garantir que os motoristas do Uber possam continuar operando na cidade.

Mais áudios de taxistas ameaçando prestadores de serviço do aplicativo online vazaram. “Eu acho melhor montar um esquadrão à paisana de moto que saia por aí resolvendo o problema de outra forma. Taxista chega só para denunciar. Se o cara [motorista do Uber] está com os quatro pneus arriados, vai para onde? Qual o borracheiro mais próximo da Cidade Jardim? A Uber vai fornecer guincho?”.

A truculência do Simtetaxi se aproxima do procedimentos de um cartel que não aceita livre concorrência, configurando um crime de direito econômico. Em protestos e pressões na Câmara Municipal de São Paulo, vereadores votaram contra a liberação do Uber. O prefeito, embora tenha acatado a decisão, manifestou em diferentes ocasiões em 2015 o desejo de regularizar o serviço, seja por cobrança de uma licença específica ou através de impostos.

Ao invés de participar democraticamente do debate, que envolve a modernização dos serviços de transporte através de aplicativos que permitem acesso por preços mais baixos, como o 99Taxis, alguns motoristas vntilam a possibilidade de criar uma “guerrilha” contra o Uber. O serviço internacional está disponível em São Paulo desde junho de 2014 e ganhou popularidade no ano seguinte.

Haddad lançou em outubro de 2015 o “alvará do taxi preto” e quer começar um processo de consultoria pública para regularizar o serviço. Os taxistas responderam com protestos com seus próprios passageiros.

Nesta guerra, no entanto, o Uber não é santo. Nos Estados Unidos, motoristas chegam a receber menos de um salário mínimo pelo expediente. Os trabalhadores deste mercado não são sindicalizados, não desfrutam de benefícios e não podem buscar coletivamente melhores condições de trabalho. O sistema, no entanto, exige que os automóveis tenham ar condicionado, doces e música de acordo com o freguês.

Uma reportagem do jornalista Noam Scheiber no New York Times também mostra que motoristas do Uber e de seu concorrente Lyft estão brigando por recursos tecnológicos que diminuam a pesada carga horária de trabalho. Muitos contraem empréstimos e se endividam muito para manter um serviço que garante um retorno muito pequeno a princípio.

O próprio Uber prevê, futuramente, a troca de motoristas por robôs, para difundir o uso de carro autômatos que já estão sendo testados pelo Google.

O preço do transporte também é barato apenas em corridas rotineiras, variando entre R$ 20 e R$ 30 pagos no cartão de crédito em São Paulo. Se ocorrer uma enchente ou o motorista tiver que pegar um passageiro num grande evento, o Uber pode cobrar mais caro sem dar satisfações e seguindo a lógica do mercado. Os custos não são tabelados – mas atualmente ainda é mais atraente do que o taxi comum.

Uber é uma tecnologia disruptiva, de mudança radical, não por trazer um transporte propriamente novo, mas por centralizar o seu funcionamento através de um aplicativo global compatível com os sistemas atuais dos smartphones. Ele não paga as licenças e os mesmos impostos que os taxistas, mas possui uma gestão de alta qualidade que atrai possíveis novos consumidores.

Com taxistas ameaçando quebrar seus carros no Brasil e não seguindo o exemplo dos colegas de Fortaleza, que criaram um serviço similar ao Uber no final de 2015, o sistema ganha popularidade entre os consumidores do Rio de Janeiro e de São Paulo. A aposta na quebradeira falhou.

A guerra só está acelerando a regularização do Uber no Brasil.