O baixo rendimento do Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, no debate presidencial contra Donald Trump segue causando preocupações no governo Lula (PT). Após aliados do demonstrarem temores sobre como ficará as relações internacionais caso o candidato republicano vença, a Folha de S.Paulo revelou que auxiliares de Lula avaliam que uma eventual vitória de Trump poderia empoderar a extrema-direita no Brasil e o bolsonarismo, impactando até mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF).
Na noite de quinta-feira (27), Biden e Trump se enfrentaram no primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos, transmitido pela CNN em Atlanta. Durante o embate, o ex-presidente dos EUA atacou o atual mandatário em temas cruciais como imigração, guerras, gestão da pandemia da Covid-19 e aborto, destacando-se de forma enérgica. O desempenho de Biden foi amplamente criticado, aumentando a pressão para que ele desista de concorrer.
Apesar de ainda faltarem meses para a eleição e dos desafios políticos e judiciais enfrentados por Trump, membros do governo brasileiro apontam que Biden demonstrou fragilidade no debate.
Lula, no mesmo dia do debate, criticou Trump, lembrando o ataque ao Capitólio e afirmando que “pessoas assim não são boas para a política”. Ele também expressou seu apoio ao atual presidente estadunidense: “O Biden é a certeza de que os EUA vão continuar respeitando a democracia. O empresário já deu aquela demonstração quando ele invadiu o Capitólio. Como democrata, estou torcendo para que o Biden saia vitorioso. Tenho uma relação sólida com ele e pretendo manter”.
Assessores do Planalto minimizaram o impacto das declarações de Lula em apoio a Biden, justificando-as pelo risco que Trump representa à democracia. Ressaltaram que, em caso de vitória do republicano, a relação com os EUA não seria mais problemática do que é atualmente, devido à proximidade da extrema-direita nos dois países.
Ou seja, há preocupações de que o fortalecimento de Trump possa criar uma nova onda de extrema-direita não só nos EUA, mas globalmente. No Brasil, isso significaria um novo fôlego para o bolsonarismo, movimento que se enfraqueceu com as investigações sobre o 8 de janeiro de 2023 e a inelegibilidade de Bolsonaro decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Assessores de Lula delinearam dois cenários para um possível relacionamento entre Lula e Trump no próximo ano. No cenário otimista, questões econômicas prevaleceriam sobre disputas ideológicas, permitindo uma agenda bilateral pragmática. No entanto, há preocupações de que os vínculos políticos do trumpismo com Bolsonaro e seus aliados possam tornar essa relação mais tensa.
Recentemente, políticos americanos partidários de Trump criticaram o que consideram perseguição do STF contra bolsonaristas. O bilionário Elon Musk, apoiador do Partido republicano, também atacou o ministro do STF Alexandre de Moraes nas redes sociais, acusando-o de favorecer Lula. Esses episódios aumentam o temor de que uma Casa Branca adote uma postura hostil contra o governo brasileiro e o Supremo, utilizando sua influência econômica global.
Além disso, a possível vitória de Trump poderia encorajar o presidente anarcocapitalista da Argentina, Javier Milei, a adotar uma estratégia mais ideológica em relação ao Brasil. A dificuldade de Biden no debate tem sido explorada por bolsonaristas nas redes sociais, como Eduardo Bolsonaro, que ironizou a idade do atual presidente e destacou suas falhas no debate.
O governo brasileiro está aguardando os próximos passos dos democratas nos EUA para decidir sua estratégia. Um assessor de Lula mencionou um tuíte do ex-presidente Barack Obama, que defendeu Biden após o debate, afirmando que “noites ruins de debate acontecem” e destacando que a eleição é entre alguém que lutou por pessoas comuns e alguém que se importa apenas consigo mesmo.