A entrada de Serra no caso FHC-Mírian. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 19 de fevereiro de 2016 às 13:26
Velhos companheiros: FHC e Serra
Velhos companheiros: FHC e Serra

 

E eis que Serra entra no escândalo Mírian-FHC.

Não que, a rigor, seja novidade. Os conhecedores da história sabem que Serra foi um dos articuladores da operação ‘Cala Mírian’, nos anos 1990.

Mas agora a história rompeu a Conspiração do Silêncio contra Mírian, feita para proteger a candidatura presidencial de um mau marido, mau amante e mau pai.

E Serra entra a seu modo: usando dinheiro público. A irmã de Mírian, Margrit Dutra, é funcionária fantasma do gabinete de Serra.

É um velho hábito dele. Virtualmente toda a família de Soninha foi empregada no governo de São Paulo quando Serra ocupava o Palácio dos Bandeirantes.

Nada melhor do que ser generoso com o dinheiro do outro, Serra sabe. Você recebe a gratidão sem ter que mexer na carteira.

Aécio, com os múltiplos amigos, parentes e agregados que empregou em Minas, conhece bem essa cartilha.

A importância do episódio está em desmascarar a pregação cínica de Serra (e Aécio) a respeito de meritocracia.

Eles falam em meritocracia  — o ato de montar uma equipe com base em talento e mérito, em vez de compadrio e interesse pessoal – tanto quanto a desrespeitam.

Isso se chama demagogia. Isso é uma atitude corrupta.

Serra tenta defender o indefensável dizendo que a irmã de Mírian trabalha em casa.

Para repetir a grande frase de Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.

Quem mexer no Senado vai encontrar, certamente, vários casos além do de Serra.

A filha do protagonista do presente escândalo, FHC, estava lotada no gabinete do ex-senador Heráclito Fortes sem pisar lá.

Como o PSDB é amigo da mídia, nada é noticiado.

Não fosse o surgimento do jornalismo digital, tudo isso continuaria a não ser noticiado, e demagogos como FHC, Serra e Aécio poderiam fazer seus discursos cínicos de falsos Catões.

Considere o caso Mírian.

Ele só se tornou amplamente conhecido por causa da internet. Não fosse a modesta revista digital Brazil com Z, que deu voz à namorada rejeitada de FHC, e ficaria escondida entre poucos privilegiados a lama que veio à tona para milhões de brasileiros.

A imprensa – que sempre soube de tudo – corre agora para falar de um assunto em que ela teve um papel vital.

Até o Globo, que manteve Mírian na folha de pagamentos por anos em troca do seu silêncio, está correndo atrás da história depois que ela viralizou nas redes sociais.

E a Folha, que sempre alegou que era um caso de interesse privado para não noticiar o caso, agora faz sucessivas entrevistas que desmentem a tese indecente sob a qual o jornal acobertou FHC.

Não será surpresa se a Folha reivindicar que o grande furo foi seu, ao dar a empresa que ajudou FHC a pagar um mensalão para Mírian.

Bastava o mínimo de empenho para descobrir todos os horrores que demonstram cabalmente que se trata de um fato de enorme interesse público.

A internet livrou a sociedade da manipulação da mídia. Essa é a principal conclusão duma história de amor que se transformou numa trama de terror.