A lição dos franceses: só a militância ressuscita as esquerdas. Por Moisés Mendes 

Atualizado em 7 de julho de 2024 às 21:37
Militantes franceses. Foto: Divulgação

Por Moisés Mendes 

Na combinação de fatores que levaram à vitória das esquerdas na França, um é essencial para inspirar também os brasileiros. A militância precisa ser retomada, com a intensidade dos velhos tempos, como provaram os franceses.

Mas que volte a militância de rua, de ações, de sentimentos, a militância presencial e analógica, que ainda impõe respeito ao fascismo. São das esquerdas as melhores lições de que a História avança com o ativismo dos que não se omitem.

O resumo está nessas frases de Jean-Luc Mélenchon, o líder do partido de esquerda (mas esquerda mesmo) França Insubmissa:

“Saúdo aqueles que se mobilizaram, porta a porta, para convencer e arrancar um resultado que diziam impossível. Nosso povo descartou a solução do pior. É um alívio para a maioria das pessoas em nosso país”.

A vitória da democracia francesa pode nos ajudar a entender por que, não só no Brasil, mas também na Argentina e em países ameaçados pelo fascismo, é possível conter os avanços de racistas, xenófobos, homófobos e neonazistas, desde que o ativismo saia das redes sociais para as cidades.

Jean-Luc Mélenchon. Foto: Divulgação

Leiam esse trecho de artigo de Paul Quinio, no Libération:

“Ao dizer não a um governo de extrema direita, os franceses rejeitaram a ideia de uma França xenófoba, rançosa e que olha apenas para si mesma, onde o Estado de direito teria, sem dúvida, sido gradualmente corroído. Os franceses da esquerda, do centro e da direita, que se recusaram a ver a extrema direita tomar o poder, salvaram, de certa forma, a ideia que a maioria deles tem da República”.

Faz bem saber que a reversão de expectativas, em apenas uma semana, ofereceu ao mundo um fato que no Brasil funcionou como uma bomba no meio do congresso de fascistas em Balneário Camboriú.

A família Bolsonaro se preparou para encerrar o encontro em Santa Catarina com uma mensagem para o mundo: eles seriam na América Latina, depois da esperada vitória de Marine Le Pen, parte do grupo de elite de líderes do avanço mundial da extrema direita.

Não são coisa nenhuma. A esquerda francesa esculhambou com a festa da extrema direita latino-americana. É bom saber que os participantes do congresso em Balneário retornam para suas casas, incluindo Javier Milei, com a autoestima aos frangalhos. Será uma semana terrível para Bolsonaro e seus amigos.

Os franceses destruíram, com a vitória da Nova Frente Popular, todas as previsões da grande imprensa brasileira, que dava como certa a ascensão do fascismo ao poder na França.

O que aconteceu no domingo pode inspirar também o sistema de Justiça brasileiro a ser menos cuidadoso com o golpismo no Brasil. Que sejam desengavetados ou andem em ritmo menos lento todos os inquéritos e processos envolvendo fascistas de antes e depois do 8 de janeiro.

Vamos parar com essa história de que o Judiciário deve calibrar suas decisões, por precaução e covardia, por temor ao poder do fascismo bolsonarista no contexto do avanço da extrema direita no mundo.

O avanço foi interrompido e depende agora da substituição de Joe Biden por Kamala Harris, na eleição americana, para que tenha sequência. Que a depressão que passa a consumir a extrema direita europeia contagie o fascismo trumpista.

Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes 
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