Por Kaique Santos
Após o ataque na Pensilvânia, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu manter a agenda e chegou no domingo (14) à cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin. Ele participa da Convenção Nacional Republicana, evento que deve nomeá-lo formalmente como o candidato presidencial do partido. A Convenção Nacional deve acontecer até a próxima quinta-feira (18) e teve a segurança reforçada.
No último sábado (13), o ex-presidente acabou ferido na orelha enquanto discursava para apoiadores durante um comício. Ainda há dúvidas se foi um tiro de raspão ou um estilhaço que atingiu Trump.
BREAKING: ?? Former President Donald Trump shot at rally. pic.twitter.com/SnQe62Vu4d
— Watcher.Guru (@WatcherGuru) July 13, 2024
Mas é possível afirmar que houve algum tipo de falha na segurança, observa Clarissa Nascimento Forner, professora de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
“Os peritos que se pronunciaram mostram que realmente é possível que tenha havido algum tipo de falha. Mas, ao mesmo tempo, o que parece é que todos os procedimentos de segurança, padrão, foram adotados naquele momento. Havia ali o reforço das autoridades federais, FBI, e também das autoridades locais da Pensilvânia.”
“Então, acho que uma das grandes perguntas é por que mesmo com todo esse reforço e procedimento, a gente ainda teve essa brecha”, questiona a professora, que conversou com o jornal Central do Brasil nesta segunda (15).
O autor do disparo foi identificado pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, como Thomas Crooks, um jovem de 20 anos. Ele acabou morto pelos agentes de segurança do evento após matar um participante e ferir outros. Segundo o FBI, o atirador agiu sozinho e a motivação ainda é desconhecida. O caso é tratado, por enquanto, como um potencial ato de terrorismo doméstico.
O atentado levantou discussões sobre o porte de armas, defendido por Donald Trump. Mesmo após o ataque, a posse não foi restrita na área da Convenção Republicana, segundo o chefe da polícia de Milwaukee. O caso ainda se junta ao histórico de violência política contra líderes nos EUA, pontua Clarissa Forner. Foram quatro presidentes mortos e três feridos, incluindo Trump na lista.
“A gente já teve situações em que presidentes chegaram a ser efetivamente assassinados, ou tentativas de assassinato. A mais recente, até então, aconteceu nos anos 80, com o então presidente Ronald Reagan [vítima de tentativa de assassinato enquanto saía de um hotel em Washington]”, relembra a professora, que diz que a violência política é uma marca do país norte-americano.
Para ela, embora exista quase uma mitologia que coloca os Estados Unidos como a maior democracia do mundo, isso não passa de uma narrativa trabalhada pelo país com bastante eficácia. “Mas é importante discutir que é uma sociedade extremamente violenta, com muitas contradições, tanto no campo político quanto no campo social”, pondera.
“E, sem dúvida nenhuma, esse evento não é uma novidade. Então, enfim, eu acho que mostra que, de fato, a violência é uma marca estrutural, do modo de como os Estados Unidos se organizam, infelizmente.”
Com o atentado no comício de Trump, muitos já deram a vitória do republicano como certa. Principalmente com as dúvidas a respeito da candidatura do rival democrata Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos. Biden sofre pressão para desistir da disputa pela reeleição com questionamentos sobre sua capacidade mental.
As eleições estadunidenses acontecem em novembro e ainda é cedo para declarar vitória a Trump, analisa a professora de Relações Internacionais. “Existe um tempo considerável até as eleições. Muita coisa pode acontecer ainda”, afirma.
“Mas essa situação mostra para nós hoje, talvez, um Partido Republicano muito mais unificado do que o Partido Democrata. Justamente porque no Partido Democrata subsiste uma série de dúvidas em relação à permanência ou não do Biden na corrida eleitoral.”
Para Clarissa Forner, a extrema direita já aproveita o ataque para levar vantagem na campanha. “Essa tendência de capitalização desse assunto pela extrema direita já era algo relativamente esperado. É uma tendência nesses contextos. E, sem dúvida nenhuma, isso adiciona aí mais um caldo importante dentro desse cenário, que já era um cenário polarizado também.”
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (15) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Originalmente publicado em Brasil de Fato
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