Eduardo Leite lidera revolta do arcaísmo gaúcho contra Lula. Por Jeferson Miola

Atualizado em 21 de julho de 2024 às 20:33
Governador do RS, Eduardo Leite discursa com camiseta de movimento. (Foto: João Pedro Rodrigues/Secom)

Publicado originalmente no blog do Jeferson Miola 

Vestindo camiseta do movimento SOS Agro RS, o governador tucano Eduardo Leite discursou contra o governo federal em encontro que curiosamente uniu no último 19 de julho interesses de latifundiários, agro-exportadores, grandes produtores rurais e da FETAG, Federação dos Trabalhadores na Agricultura.

Com um comportamento diferente daquele cauteloso que adota na presença do presidente Lula, perante a facção agrária da vanguarda do atraso Leite disparou que “a ajuda que vem do governo federal até o momento é insuficiente e está muito distante das necessidades do povo gaúcho”.

“Estamos vendo muita propaganda por parte do governo federal, muitos anúncios, mas pouca efetividade na chegada de recursos. Apenas 20% de tudo que o governo federal anunciou chegou aos gaúchos”, discursou.

Leite atacou duramente Lula: “Tem uma coisa pior que não dar nada e não responder [às reivindicações]: é não dar nada, não responder e ainda tentar fazer crer que estão fazendo muito”.

Na pregação oposicionista, Leite omitiu que naquele momento em que acusava o governo federal de “pouca efetividade na chegada dos recursos”, o RS já tinha disponíveis R$ 24,3 bilhões dos quase R$ 90 bilhões anunciados pelo presidente Lula – cifra inédita de ajuda da União a uma unidade federativa em toda história republicana.

Se não padecesse de déficits de verdade e honestidade, Leite assumiria a responsabilidade do próprio governo estadual e das prefeituras municipais, que não conseguem acelerar a elaboração de projetos, atrasam cadastros e não têm capacidade de planejar a reconstrução.

Décadas de gestões neoliberais com desmonte, privatização e terceirização das estruturas técnicas do Poder Público cobram um alto preço neste momento de emergência climática, retardando o acesso rápido dos governos e da população aos recursos transferidos pela União.

Leite escondeu, também, que 375 mil famílias gaúchas atingidas já tinham recebido o auxílio-reconstrução no valor de R$ 5.100. Só nessa ajuda para o consumo das famílias, o governo federal injetou R$ 1.912.500.000 [R$ 1,9 bi!] na economia gaúcha em apenas 30 dias.

Antes de atacar desonestamente o governo Lula, o governador deveria ter pesquisado este e outros dados no Painel Calamidade Pública–RS do ministério do Planejamento. Este site disponibiliza os investimentos e repasses do governo federal ao Estado, aos municípios, e, também, a empresários, setores econômicos, trabalhadores e a todo povo gaúcho.

Já o site oficial do governo gaúcho, porta-voz do SOS Agro RS, informa que o movimento dos proprietários rurais cogita lotar e tomar a Praça da Matriz, endereço do Palácio Piratini, “caso Lula não atenda as demandas junto ao governo federal”.

“Faço questão, se as respostas [do governo Lula] não vierem, de ter essas pessoas, e muito mais, em Porto Alegre”, discursou Leite, com o tom de líder da revolta do arcaísmo gaúcho contra Lula.

Os ataques do governador Leite são levianos. O governo dele tem um desempenho medíocre e desastroso no processo de reconstrução do Rio Grande, que só não causa desgaste porque ele é protegido pela mídia hegemônica dominado pelo agronegócio.

Aliás, essa blindagem da mídia, junto com a produção permanente de críticas ao governo federal explica a perda de popularidade que aparece na pesquisa Quaest [10/7] – não por acaso, única região do país onde o governo Lula teve desempenho desfavorável.

Eduardo Leite é um político tão jovem quanto obsoleto. O mesquinho quer aproveitar a oportunidade de se viabilizar como opção presidencial do campo de direita e extrema-direita polarizando com Lula.

Por trás da aparência de modernidade e de jovem descolado se esconde um personagem conservador, ultraliberal, que faz política sem ética e com ódio de classe. É apenas uma caricatura contemporânea do arcaísmo que teima em condenar o povo brasileiro ao atraso.

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