Já faz algumas semanas que a Paraty House é um dos assuntos mais quentes nas redes sociais.
Mais precisamente, desde que o DCM foi a Parati investigar a casa, que se consagrou na internet como o “Triplex dos Marinhos”.
Temos, agora, uma situação bizarra.
Contra todas as evidências, os Marinhos afirmam não ser donos do casarão. O DCM recebeu mais de uma notificação judicial da Globo com ameaças caso não disséssemos que os Marinhos nada têm a ver com a Paraty House.
É uma espécie de casa maldita, porque é criminosa desde antes de ser erguida. Um espaço público foi virtualmente tornado particular, e a legislação ambiental foi simplesmente ignorada.
Considere nossa situação.
Uma paisagista que trabalhou no projeto nos procurou, na condição de anonimato, para contar detalhes de sua rotina na obra. “Atendi a Paula Marinho na casa”, disse ela.
Paula Marinho é filha de João Roberto e neta, portanto, de Roberto Marinho. O arquiteto que desenhou a Paraty House batizou o projeto de PM. Um funcionário da empresa que fornecia internet à propriedade nos procurou para narrar, também sob a condição de anonimato, os serviços prestados à casa. “Todas as questões eram encaminhadas, por telefone, por uma secretária da família Marinho”, ele nos disse.
O anonimato não é gratuito.
As pessoas têm pavor de retaliação. Uma funcionária de um instituto ambiental que investigava o caso enfrentou um pesadelo. Sua casa foi atacada e seu carro queimado.
O pânico é justificado. Se presidentes da República não conseguem encarar a Globo, que dirá humildes brasileiros residentes em Parati?
A despeito das negativas da família, a Paraty House entrou na mente dos brasileiros, por justificadas razões, como o “Triplex dos Marinhos”.
Foi assim que Lula se referiu à casa na entrevista que concedeu depois da condução coercitiva que lhe foi imposta por Moro. Foi assim também que ativistas a chamaram depois de, neste domingo, ocupar a praia tomada pela Paraty House. Eles cantavam: “Hoje a praia é sua, hoje a praia é nossa, é de quem quiser, quem vier.”
Trata-se, hoje, de um caso de enorme interesse nacional.
E é aí que entra a situação bizarra citada acima. Por que, se os Marinhos não são os donos, não aparece o verdadeiro proprietário?
Fernando Brito, do Tijolaço, também ele notificado, fez uma excelente sugestão à Globo. Com tantos recursos e tantos jornalistas em suas múltiplas redações, por que a Globo não esclarece o caso?
Acrescento aqui: por que as demais empresas jornalísticas ignoram um assunto de tamanha relevância? A suspeita – pesada – de que a família mais rica do país tenha erguido uma casa desconsiderando a lei é notícia, e notícia de primeira página.
Seja para confirmar, seja para desmentir, um jornal ou uma revista decente haveria de investigar o caso.
Mas por que ninguém se mexe para elucidar um mistério? E por que o verdadeiro dono não diz que a casa é dele?
Imagino que ele não vá gostar de ver, dia sim, dia não, pessoas se aglomerando em frente de sua casa. A privacidade comprada a preço tão alto, e com ação criminosa, estaria perdida.
Minha hipótese para tudo isso é a seguinte: o real dono não se apresenta porque ele não existe.
Por trás de uma barragem burocrática e legal que só o dinheiro e o poder conseguem comprar, está – repito, é minha hipótese – sabemos muito bem quem.