“Sacrilégio”: extrema-direita se irrita e tenta boicotar Jogos Olímpicos após abertura

Atualizado em 27 de julho de 2024 às 10:40
Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Foto: reprodução

O jornalista Jamil Chade, do UOL, destacou em sua coluna neste sábado (27) o quanto a extrema-direita francesa ficou enfurecida com a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, marcada pela diversidade e quebra de paradigmas, chegando até mesmo a tentar boicotar o evento.

Confira alguns trechos:

A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris enfurece a extrema-direita francesa que, nas redes sociais, chega a pedir o boicote ao evento. A festa, na noite de sexta-feira, foi marcada pela diversidade, pela quebra de paradigmas e por mensagens de recusa de um padrão defendido por movimentos ultraconservadores.

Menos de doze horas depois, as redes sociais e políticos da extrema-direita não disfarçavam o mal-estar. O evento ocorre num momento de avanço dos ultraconservadores na Europa e de um debate sobre a normalização de teses racistas e xenófobas.

A extrema direita não conseguiu votos suficientes na última eleição francesa para formar um governo. Mas, com mais de 10 milhões de votos, jamais foi tão forte na vida política local desde o final da Segunda Guerra Mundial.

No lugar da baguete e dos símbolos caricaturais de uma França vista como arrogante, o evento abriu espaço para mulheres, negros, drag-queens, estrangeiros e um questionamento de toda a discriminação.

Julien Odoul, porta-voz da Reunião Nacional, chamou o evento de “vergonha”. “A abertura é um sacrilégio da cultura francesa”.

Seu ataque era, acima de tudo, contra a cantora Aya Nakamura. Nas últimas semanas, diante do vazamento da informação de que a artista de origem do Mali poderia estar no rio Sena, o grupo de extrema direita Les Natifs (Os nativos) forma às redes sociais para protestar. “Fora Aya. Aqui é Paris, e não um mercado de Bamako”, escreveram. (…)

Marion Marechal, sobrinha de Marine Le Pen, acusou os organizadores de terem “humilhado” a Guarda Nacional ao faze-la dançar ao lado de Aya. (…)

Uma parcela ainda dos comentaristas ligados aos grupos nacionalistas tentavam se distanciar do evento. “A todos os cristãos do mundo que se sentem insultados pela paródia de drag-queen, saibam que não é a França que fala. Mas uma minoria da esquerda pronta para toda provocação”, disse um deles.

O evento, porém, foi amplamente comemorado por grupos de direitos humanos. Quando os primeiros acordes da Marsaillaise foram entoados na abertura dos Jogos Olímpicos, o tradicional tom marcial foi substituído pelo lirismo da resistência. Para cantar um dos hinos mais reconhecidos do mundo, os organizadores selecionaram a mezzo soprano francesa negra, Axelle SaintCirel.

Ao lado da bandeira francesa e de um coral de 34 mulheres, a cantora assumia o papel de voz da nação. Desta vez, porém, de uma mulher nascida em Guadalupe, uma imagem forte de uma nova composição demográfica da França, com sua diversidade e desafios de integração. (…)

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