Durante uma de suas aparições nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a skatista brasileira Rayssa Leal aproveitou para transmitir uma mensagem poderosa. Utilizando a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a jovem atleta afirmou: “Jesus é o caminho, a verdade e a vida”.
A declaração gerou grande repercussão nas redes sociais e levantou questões sobre possíveis punições para Rayssa, uma atleta de apenas 16 anos. A preocupação surgiu devido às regras rígidas do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre manifestações religiosas e políticas durante o evento.
O COI repreendeu o Comitê Olímpico do Brasil (COB) devido à manifestação religiosa da adolescente. A assessoria de comunicação do COI informou que entrou em contato com as autoridades brasileiras para lembrar as Diretrizes de Expressão dos Atletas, que regulam o que pode e não pode ser expressado em termos de política e religião. Apesar da repreensão, a sanção não deverá afetar a conquista da medalha por Rayssa.
16-year-old Catholic Olympian Rayssa Leal signed “Jesus is the way, the truth, and the life” after the Last Supper drag show parody at the Paris Olympics.pic.twitter.com/Bfp4xHiyUU
— CatholicVote (@CatholicVote) July 29, 2024
A origem
Os Jogos Olímpicos, mais prestigiado evento esportivo global, têm suas raízes na mitologia grega, remontando a séculos antes da era cristã. A trajetória deste evento icônico é marcada por influências religiosas, conflitos, empreendedorismo, disputas políticas e, claro, grandes somas de dinheiro.
Quem inventou os Jogos Olímpicos?
Os Jogos Olímpicos modernos foram idealizados pelo Barão Pierre de Coubertin, um historiador francês, em 1894. O crescente interesse pelos antigos Jogos, despertado por recentes descobertas arqueológicas em Olímpia, levou Coubertin a convocar um congresso internacional em Paris.
Vale destacar que o evento foi crucial para a criação do Comitê Olímpico Internacional (COI), que, dois anos depois, organizou a primeira edição dos Jogos Olímpicos da era moderna, um evento que continua a ser realizado até hoje.
Inicialmente, os Jogos Olímpicos modernos não tiveram o impacto esperado. A primeira edição foi um sucesso, com grande participação de atletas internacionais e um público considerável.
No entanto, as edições subsequentes, realizadas em Paris (1900) e St. Louis (1904), não atraíram tanta atenção, pois estavam inseridas nas Exposições Mundiais, que destacavam inovações da época. Foi só na edição de 1906, realizada em Atenas, que os Jogos recuperaram o interesse e a atenção do público.
Os Jogos Olímpicos na antiguidade
Antes da era moderna, os Jogos Olímpicos tinham origens profundas na mitologia e na história grega. Inscrições encontradas em Olímpia indicam que competições ocorreram a partir de 776 a.C., em honra aos deuses gregos.
Esses jogos, realizados a cada quatro anos, eram parte de um culto religioso. A ideia de que as Olimpíadas promovem a paz entre os povos tem raízes na trégua de verão acordada pelos reis gregos para permitir as competições.
A inspiração para os Jogos antigos vinha dos mitos nos quais os deuses participavam de corridas e outras provas, sendo coroados com ramos de oliveira em reconhecimento às suas vitórias.
O papel de Zeus
Por volta de 800 a.C., Olímpia tornou-se um importante santuário dedicado a Zeus, o rei dos deuses. Os Jogos Olímpicos faziam parte das cerimônias em homenagem a Zeus, cuja vitória sobre Cronos era celebrada com as competições. O santuário também abrigava um oráculo renomado por oferecer orientações sobre questões de guerra.
De acordo com a pesquisadora Lilian Laky, “Olímpia se tornou um importante centro de peregrinação, atraindo visitantes não apenas do Peloponeso, mas também de outras regiões.” Laky, doutora pela Universidade de São Paulo e atuante em escavações em Olímpia desde 2012, afirma que o santuário servia como um “local neutro de encontro” para líderes regionais competirem e oferecerem suas preces.
Durante as cerimônias de abertura dos Jogos antigos, bovinos eram sacrificados em um altar dedicado a Zeus, e a carne era distribuída entre os presentes. O sacrifício era um evento central na religião grega, evidenciando a relevância das Olimpíadas na vida religiosa e cultural da Grécia antiga.
O fim dos Jogos Olímpicos da antiguidade
Os Jogos Olímpicos da Antiguidade chegaram ao fim devido a mudanças políticas e culturais profundas. Após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., o mundo grego entrou em um período de transição que culminou na dominação romana. Com a expansão do Império Romano, conflitos e guerras se tornaram mais comuns, e a trégua sagrada, que havia possibilitado a realização dos Jogos, foi sendo gradualmente esquecida.
A data geralmente aceita para o fim dos Jogos Olímpicos da Antiguidade é 393 d.C. Nessa época, o imperador romano Teodósio I, conhecido por estabelecer o Cristianismo como a religião oficial do império, determinou a extinção de todos os cultos pagãos. Como os Jogos eram dedicados a deuses não cristãos, foram abolidos como parte dessa política de eliminação das práticas religiosas pagãs.
Regras olímpicas sobre manifestações
Atualmente, as diretrizes que regulam as manifestações durante os Jogos Olímpicos estão estabelecidas na Carta Olímpica. Este documento abrange os princípios fundamentais, regras e estatutos da competição. Conforme a Regra 40, todos os competidores e suas equipes têm garantida a liberdade de expressão.
Entretanto, a Regra 50 proíbe expressamente qualquer tipo de manifestação política, religiosa ou racial nos locais oficiais dos Jogos, incluindo a Vila Olímpica e as cerimônias de abertura e encerramento. O Comitê Olímpico Internacional (COI) implementa essas regras para manter o foco nos desempenhos esportivos e nos valores de unidade e universalidade.
Introduzida em 1975, a Regra 50 passou por várias revisões ao longo dos anos. Desde os Jogos de Tóquio 2020, algumas formas de expressão são permitidas antes ou após as competições e durante entrevistas, em resposta a pressões internacionais. Contudo, protestos explícitos, como gestos políticos ou a recusa em seguir protocolos, continuam a ser proibidos.
Além disso, o COI proíbe a exibição não autorizada de propaganda e publicidade nos locais dos Jogos. Isso inclui restrições à inclusão de publicidade em vestuário, acessórios e equipamentos dos atletas, com exceção da identificação do fabricante dos materiais esportivos.