O avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) na última semana, matando 62 pessoas, estava operando com uma permissão temporária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que permitia a não gravação de todas as informações exigidas pelas autoridades brasileiras nas caixas-pretas, conforme informações do Estadão.
A Voepass, que começou a utilizar o avião no Brasil em setembro de 2022, obteve uma autorização da Anac para não cumprir temporariamente oito dos parâmetros de informação necessários para os gravadores digitais de voo no país.
As caixas-pretas são compostas por dois dispositivos cruciais: o gravador de voz da cabine (Cockpit Voice Recorder) e o gravador de dados de voo (Flight Data Recorder), que registram os eventos a bordo. Vale destacar que os dados já foram extraídos pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB) responsável pela investigação.
A Anac emitiu essa autorização temporária em 1º de março de 2023, determinando que a companhia aérea deveria se adequar aos parâmetros em até 18 meses ou durante o check “C”, uma revisão técnica na aeronave.
Que Deus conforte as famílias das pessoas que estavam dentro desse avião que caiu em Vinhedo. pic.twitter.com/sPHY7HHERT
— Carlos Mamprin (@carlosmamprin) August 9, 2024
Segundo o regulamento da Anac, nenhuma aeronave pode operar sem estar equipada com gravadores de dados de voo que utilizem técnicas digitais para gravar, conservar e permitir a rápida recuperação desses dados. São 91 os parâmetros que devem ser registrados, incluindo tempo, altitude, velocidade e gelo — este último sendo uma hipótese apontada por especialistas como possível causa do acidente.
A Voepass obteve autorização para não registrar oito desses parâmetros:
- Frequências selecionadas em Nav 1 e Nav 2 (navegadores de voo);
- Pressão do freio (sistema selecionado);
- Aplicação do pedal do freio (direito e esquerdo);
- Pressão hidráulica (cada sistema);
- Posição do comando do compensador de arfagem na cabine;
- Posição do comando do compensador de rolamento na cabine;
- Posição do comando do compensador de direção na cabine; e
- Todas as forças de comando dos controles de voo da cabine (volante, coluna e pedais).
A Anac, no entanto, afirmou que a ausência dessas informações não compromete a investigação do acidente. Já a Voepass declarou que o avião estava “aeronavegável” e atendia a todos os requisitos exigidos pelas autoridades, conforme relatado pelo Estadão.
A permissão temporária estava vigente e expiraria em novembro deste ano, de acordo com a Anac. Essa autorização era específica para o avião do voo 2283, que partiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) e caiu em Vinhedo (SP). A agência também informou que essa autorização foi concedida para outras aeronaves fabricadas fora do Brasil, que seguem exigências diferentes das adotadas no país.