Em depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira, 21, no inquérito sobre as mensagens vazadas, o perito Eduardo Tagliaferro afirmou que acreditava que seu celular, apreendido pela Polícia Civil de São Paulo em maio de 2023, durante uma ocorrência de violência doméstica, havia sido enviado a Brasília por ordem do ministro Alexandre de Moraes.
“O depoente acreditou que o aparelho estava seguro, pois havia sido direcionado ao ministro. Dias depois perguntou ao advogado do caso sobre o aparelho, ao que foi respondido que poderia ser restituído, o que gerou surpresa ao depoente, pois acreditava que o aparelho estava em Brasília”, diz um trecho do termo de depoimento.
Na ocasião, Eduardo Tagliaferro foi preso em flagrante. Ele era chefe do setor de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o incidente resultou em sua exoneração.
O perito informou à PF que, ao ser preso, deixou o celular desbloqueado com seu cunhado, Celso Luiz de Oliveira, para que ele pudesse cuidar do pagamento das despesas da família por meio de aplicativos bancários. No entanto, o telefone precisou ser entregue ao delegado José Luiz Antunes na Delegacia Seccional da Polícia Civil em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, onde permaneceu sob custódia por seis dias.
“Não se recorda de ter conversado nada com Celso a respeito do aparelho de telefonia celular. Não sabe dizer quando soube da apreensão do aparelho celular. Nesta data não tomou qualquer providência a respeito do aparelho celular, queria apenas encontrar um local para dormir, pois não podia ir para casa, em razão das medidas protetivas de urgência que foram concedidas à esposa, Carla”, informa o depoimento de Tagliaferro à PF.
Naquela noite ele foi com Celso a um shopping comprar outro celular e soube que seu telefone havia sido aprendido. “Celso lhe falou que uma viatura caracterizada da Polícia Civil de Franco da Rocha foi até a casa do depoente, onde Celso estava e lhe exigiu a entrega do aparelho celular que o declarante o havia passado”, diz o depoimento.
O cunhado de Tagliaferro, que também prestou depoimento à PF nesta quinta-feira, afirmou que ouviu do delegado que a ordem para apreender o celular veio do próprio Alexandre de Moraes.
Depois de ser liberado, o perito foi até a Delegacia de Franco da Rocha para recuperar seu celular. Segundo ele, o aparelho estava desligado e “fora de qualquer invólucro”, ou seja, sem o lacre que garante a integridade do conteúdo. Tagliaferro relatou ainda que o celular estava danificado, o que o levou a inutilizá-lo e descartá-lo. Ele negou qualquer envolvimento no vazamento das mensagens.
“José Luiz disse a Celso que o depoente era uma pessoa muito querida, ‘que todo mundo estava atrás desse aparelho, que havia chegado uma ordem do ministro Alexandre de Brasília, que esse telefone seria encaminhado a São Paulo e depois para Brasília”, informa o depoimento.
“O depoente acreditou que o aparelho estava seguro, pois havia sido direcionado ao ministro. Dias depois perguntou ao advogado do caso sobre o aparelho, ao que foi respondido que poderia ser restituído, o que gerou surpresa ao depoente, pois acreditava que o aparelho estava em Brasília.”
Ao receber o telefone de volta, o perito assinou um auto de entrega, documento que formaliza a devolução de bens apreendidos. O documento produzido pela seccional alerta que “com a entrega se torna responsável pelos dados contidos no aparelho assim como as consequências da indevida divulgação de dados eventualmente sigilosos”.