Em todo momento decisivo da história há aqueles que se agigantam, os que se apequenam e os que vão pescar — em geral, esses últimos dois grupos são os que confirmam a tese do Barão de Itararé segundo a qual de onde menos se espera é que não vem nada, mesmo.
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, vem dando lições preciosas desde a condução coercitiva de Lula. Naquela mesma noite, à TV Bandeirantes, falou da arbitrariedade. “E quando o chicote mudar de mãos?”, perguntou.
Tornou-se uma voz fundamental contra os poderes plenipotenciários de Sergio Moro e o perigo que ele representa para o estado de direito.
No episódio dos grampos de Lula e Dilma, foi categórico. “Ele não é o único juiz do país e deve atuar como todo juiz. Agora, houve essa divulgação por terceiro de sigilo telefônico. Isso é crime, está na lei. Ele simplesmente deixou de lado a lei. Isso está escancarado. Não se avança culturalmente atropelando a ordem jurídica, principalmente a constitucional”, falou em entrevista ao site Sul21.
“O avanço pressupõe a observância irrestrita do que está escrito na lei de regência da matéria. Dizer que interessa ao público em geral conhecer o teor de gravações sigilosas não se sustenta. O público também está submetido à legislação”.
Sobre o vazamento da delação premiada de Delcídio: “Os fatos foram se acumulando. Nós tivemos a divulgação, para mim imprópria, do objeto da delação do senador Delcídio Amaral e agora, por último, tivemos a divulgação também da interceptação telefônica, com vários diálogos da presidente, do ex-presidente Lula, do presidente do Partido dos Trabalhadores com o ministro Jacques Wagner. Isso é muito ruim pois implica colocar lenha na fogueira e não se avança assim, de cambulhada.”
Sobre os fins justificarem os meios: “Há um afã muito grande de se buscar correção de rumos. Mas a correção de rumos pressupõe a observância das regras jurídicas. Eu, por exemplo, nunca vi tanta delação premiada, essa postura de co-réu querendo colaborar com o Judiciário”.
“Eu nunca vi tanta prisão preventiva como nós temos no Brasil em geral. A população carcerária provisória chegou praticamente ao mesmo patamar da definitiva, em que pese a existência do princípio da não culpabilidade. Tem alguma coisa errada. Não é por aí que nós avançaremos e chegaremos ao Brasil sonhado.”
Se Mello cresceu na fita, especialmente num Supremo “acovardado” — se Luiz Fachin é “suspeito” para julgar o habeas corpus de Lula, Gilmar Mendes é o quê? —, Luciana Genro diminuiu. Luciana é, hoje, uma nanica.
Lula foi levado para depor no dia 4 de março. Cinco dias depois, ela se manifestou. Cinco. E de maneira desgraçadamente oportunista.
“A condução coercitiva do Lula foi desnecessária, autoritária e pode até ser entendida como ilegal. Isso, entretanto, não é novidade no Brasil”, escreveu. “Pessoas presas sem julgamento são 30% da massa carcerária do país. Lula não foi preso, e foi tratado com dignidade pelos policiais, coisa que não acontece com os acusados pobres.”
O problema, lembra ela, não é só com o Lula. E arremata: “Por isso temos que construir uma alternativa, para que, se não agora, mas no futuro, seja possível uma esquerda autêntica governar o Brasil. E não será defendendo um líder sustentado pelas empreiteiras corruptas que vamos conseguir por de pé esta alternativa.”
É quase um discurso de grêmio estudantil nefelibata. É fruto do oportunismo, que você pode dizer que é do jogo — mas que tipo de oportunidade pode surgir no cenário que se apresenta?
Sim, quem quer defender um líder sustentado por empreiteiras etc etc. Ataca-lo, porém, desta maneira significa ajudar a doar o país para outros líderes sustentados por empreiteiras, apenas à direita e impunes, eternamente impunes.
O ressentimento de Luciana e do Psol com o PT, Lula e Dilma a impede de enxergar direito e de qualquer perspectiva histórica. Parece que o que vivemos agora não tem nada a ver com 54 ou 64. Jean Wyllys tornou-se uma liderança isolada ali, denunciando o que ficou impossível esconder.
A ideia de Luciana das eleições antecipadas — o “referendo revogatório” — virou farinha nas mãos do PMDB, PSDB et caterva, como esperado. Temer e Serra articulam abertamente.
No Twitter, ela lançou uma dúvida: “Estará o PSDB sendo poupado por Moro? Talvez. Para saber devemos defender o fim do sigilo da Lava Jato e sua continuidade.”
Talvez?? Aécio está na sexta citação, nada acontece — e o PSDB talvez esteja sendo poupado? Os policiais federais e promotores vazam para toda a mídia “simpatizante” (apud Moro) documentos sigilosos, atropelam a defesa, dão declarações messiânicas, tocam fogo no Brasil, o chefe se apresenta em eventos de João Doria, tudo aponta para a criminalização não só de um partido, mas de uma ideia — e o PSDB “talvez” esteja sendo poupado?
Luciana refuta a ideia de golpe. “A precária democracia que temos continuará burguesa e precária”, aponta um manifesto do Psol por ela reproduzido.
O golpe já foi dado e só Luciana não viu.