Nesta segunda-feira (26) o presidente francês Emmanuel Macron rejeitou a candidatura de Lucie Castets, do bloco de esquerda “Nova Frente Popular”, para o cargo de primeira-ministra. A decisão dele provocou uma reação contundente do movimento de esquerda, que acusa o presidente de autocratismo e anunciou a intenção de protocolar um pedido de impeachment.
O bloco Nova Frente Popular obteve a vitória nas eleições legislativas de julho, conquistando 182 assentos no Parlamento. Contudo, a coalizão de Macron ficou com 168 assentos, e a extrema direita com 143, o que impediu a Nova Frente Popular de formar uma maioria absoluta.
Após as eleições, o então primeiro-ministro Gabriel Attal apresentou sua carta de renúncia, mas a pedido de Macron, ele permanece no cargo de forma interina até que um novo governo seja estabelecido. O presidente francês iniciou, então, as negociações com os partidos para a formação do novo governo e recebeu a candidatura de Lucie Castets pelo Nova Frente Popular.
Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, Macron justificou sua decisão ao afirmar que não poderia aceitar um plano de governo que atendesse exclusivamente aos interesses da Nova Frente Popular, em nome da “estabilidade institucional”.
Ele ressaltou que um governo baseado apenas no programa e nos partidos da aliança com maior número de deputados, a Nova Frente Popular, seria imediatamente censurado na Assembleia. O presidente também mencionou que consultou líderes partidários antes de tomar sua decisão e pediu um “espírito de responsabilidade” das lideranças políticas.
Em resposta, a Nova Frente Popular anunciou que irá bloquear qualquer outra indicação para o cargo de primeiro-ministro e apresentará um pedido de impeachment contra Macron. O grupo argumenta que a decisão do presidente representa um “abuso do poder autocrático”.
Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento França Insubmissa, que integra a Nova Frente Popular, condenou a ação dele como uma situação “excepcionalmente grave”. Ele chamou a resposta popular e política de ser “rápida e firme”, afirmando que o pedido de impeachment será apresentado.
A crise política se intensifica desde que Macron dissolveu o Parlamento francês em junho, após sua derrota nas eleições do Parlamento da União Europeia para a extrema direita. O presidente convocou novas eleições nacionais, realizadas em 7 de julho, alertando sobre o perigo da ascensão nacionalista para a Europa.
Embora o bloco de extrema direita Reunião Nacional, liderado por Marine Le Pen, tenha iniciado a disputa como favorito, uma aliança entre candidatos da esquerda levou a uma reviravolta nas eleições, resultando na vitória da Nova Frente Popular.
No entanto, sem a maioria absoluta de 289 assentos, a esquerda precisa formar uma aliança com o centro, incluindo o bloco de Macron, que possui profundas desavenças com a esquerda, como evidenciado pela reforma da Previdência aprovada em 2023.