Perguntas sobre a volta do véio da Havan às redes sociais. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de setembro de 2024 às 7:58
O empresário Luciano Hang – Foto: Reprodução

São muitas as interrogações acionadas pela decisão do ministro Alexandre de Moraes de suspender o bloqueio das contas nas redes sociais do empresário Luciano Hang.

Por que, dois anos depois do bloqueio, o autoproclamado véio da Havan está liberado para se expressar nas redes, como um dos maiores influenciadores do país, com milhões de seguidores?

A resposta formal e oficial é esta, que consta no despacho do ministro em que o também empresário José Koury fica autorizado a usar de novo as redes:

“No atual momento da investigação, não há necessidade da manutenção dos bloqueios dos diversos perfis de Luciano Hang e José Koury nas redes sociais”.

José Koury é dono do Barra Shopping, no Rio de Janeiro, mas não tem a expressão de Hang. Ambos estão sob investigação sob a acusação de que conspiravam contra as instituições e a democracia.

Primeiro, vamos relembrar o caso de Hang, para depois listar as perguntas que passam a ser levantadas com a decisão de Moraes. O inquérito em que ele é investigado existe desde agosto de 2022, quando um grupo de oito tios do zap teve mensagens vazadas, com alguns deles pregando descaradamente um golpe de Estado.

Hang disse na época que teve um celular apreendido pela Polícia Federal. No ano passado, ao renovar o prazo do inquérito, Moraes liberou seis empresários e manteve o véio e outro tio, Meyer Nigri, dono da Tecnisa, sob investigação.

O ministro informou que dois celulares de Hang continuavam sob perícia na PF, porque o sujeito se negava a conceder as senhas dos aparelhos. Por isso prorrogava a investigação.

O outro aparelho pode ter sido apreendido em maio de 2020, em busca e apreensão que teve Hang e outros investigados como alvo, no inquérito das fake news.

Hang está nesse inquérito, aberto em março de 2019, e no inquérito dos tios do zap, que provocou o bloqueio das contas nas redes sociais, agora desbloqueadas.

Além disso, consta do relatório da CPI da Pandemia, enviado em outubro de 2021 ao Ministério Público, por incitação ao crime, acusado de divulgar informações contra a saúde pública, como integrante do que teria sido o gabinete paralelo de Bolsonaro no Ministério da Saúde.

O ex-presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução

Só foram indiciados até agora nesse caso da pandemia os diretores e médicos da clínica Prevent, que faziam experimentos com a cloroquina, enquanto pacientes continuavam morrendo.

Vamos então às perguntas. Por que Hang é liberado para atuar nas redes, dois anos depois do início das investigações, se o inquérito não tem conclusões?

A PF continua sem acesso aos celulares do empresário? É possível que esse inquérito não tenha chegado a provas que possam incriminar Hang como golpista?

Como alguém fica durante dois anos com redes sociais bloqueadas e retoma a vida no mundo virtual sem um desfecho para o seu caso?

Por que as redes dele ficaram bloqueadas por tanto tempo? O inquérito será mantido por mais quantos meses? Qual é a situação de Meyer Nigri, o outro tio do zap ainda investigado?

Outra pergunta óbvia. A decisão de Moraes de tirar Hang do ar não acabou favorecendo o empresário, porque assim ele foi interditado e deixou de continuar pregando contra a democracia? Se estivesse liberado, ele não poderia ter produzido mais provas contra contra ele mesmo?

E agora as perguntas mais inquietantes. É possível imaginar que Hang, investigado em várias frentes, possa sair ileso do inquérito das fake news, desse inquérito dos tios do zap e das investigações da pandemia?

E a última pergunta dirigida a policiais, promotores, procuradores, juízes de primeira instância, desembargados de tribunais de segunda instância e ministros das altas Cortes: é possível que o véio da Havan escape de novo do cerco da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário?

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SILÊNCIO
O interessante é que o bloqueio do acesso do empresário às redes sociais nunca provocou maiores reações de indignação de colegas dele e de gente importante do bolsonarismo.

A extrema direita que defende com ardor Elon Musk nunca se empenhou em defender o parceiro nacional. Por que será?

(Poucos ainda perguntam, até porque a maioria não tem mais essa dúvida, mas vamos esclarecer: por que eu me refiro a Luciano Hang também pelo apelido? Porque é assim que ele se apresenta em vídeos e até em propagandas. É a marca dele, é como Hang é mais conhecido.)

Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes