O golpe ganhou uma musa e o nome dela é Janaína Paschoal. Sob certos aspectos, é um avanço com relação à modelo e atriz Juliana Isen, que sumiu depois do Carnaval.
Janaína foi a estrela da audiência pública na Comissão Especial do Impeachment na tarde de quarta, dia 30. Pegou o microfone depois de Miguel Reale Jr, que assina com ela e Hélio Bicudo o pedido de impedimento, e falou, falou, falou.
Falou não como advogada do Largo de São Francisco que é, mas como deputada federal com tiques de revoltada online.
“Estamos diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade”, acusou, ecoando o presidente da OAB, para quem Dilma deve ser cassada pelo “conjunto da obra”.
“Se nós pudéssemos dividir a denúncia em três grandes partes, sendo cada parte tendo continuidade delitiva, seria: pedaladas fiscais, decretos não numerados que foram baixados sem autorização desta Casa e comportamento omissivo doloso da presidente no episódio do petróleo”.
Tudo é crime. “Eles acreditam que o BNDES é deles. Tanto é que só empresta dinheiro aos amigos deles”, falou, no ponto alto do encontro. A declaração foi repercutida por seus fãs, com destaque para ativistas de extrema direita que, enquanto não acontece o próximo corte de custos, têm blog na Veja.
É curioso. A CPI do BNDES virou do avesso a instituição e não encontrou o que Janaína viu. Das cem maiores empresas brasileiras, mais de 90% têm relação com o banco. Das 500 maiores, mais de 80%. As decisões passam por órgãos colegiados.
Por volta de 50 pessoas analisam as operações. É um mistério que ingerências indevidas de toda essa gente não tenham vazado. Ou vazaram só para ela.
A relação da doutora Janaína com o BNDES é complicada. Ela defende o procurador da República Douglas Kirchner — encarregado de apurar o caso de tráfico de influência de Lula na entidade — num processo cabeludo.
O jovem Kirchner, de 27 anos, é investigado por consentir e tomar parte de “castigos” contra a esposa, Tamires Souza Alexandre.
Entre fevereiro e julho de 2014, o casal era membro de uma igreja evangélica chamada Hadar, em Porto Velho (RO), cuja sede era na residência deles.
A líder da coisa, Eunice Campelo, tia de Tamires, batia na sobrinha, entre outros motivos, por “indisciplina” com o marido.
Ele teria assistido a uma surra de cipó. Ele mesmo teria espancado a mulher com um cinto. Tamires contou que foi mantida num alojamento da igreja, sem comida e sem banho.
Em outras palavras, tortura.
O relator do processo afirma que Douglas “participou de tudo e aceitou de tudo de forma livre e espontânea”. Para Janaína Paschoal, no entanto, DK é uma vítima. “Não teve crime. Se ele tivesse batido na moça eu não estaria defendendo ele. Ele foi tão vítima da pastora quanto a esposa, e está sendo punido por acreditar”, alegou ao Estadão.
Um laudo encomendado atesta que o procurador sofre de um “transtorno psíquico desencadeado por fanatismo religioso”. Balela. Se a moda pega, não fica de pé uma igreja evangélica.
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) tem maioria para pedir a demissão de Douglas Kirchner. “O que está acontecendo aqui é um julgamento da fé”, diz Janaína.
Aos 41 anos, Janaína já se declarou preocupada com as “forças ocultas” que “manipulam nossos jovens marxistas de twitter” (??). De certa forma, mantém a coerência em seu ódio profuso pelo PT, o bolivarianismo etc etc.
Em 2010, advogou em favor da estudante Mayara Petruso, aquela que convidou os paulistas a afogar os nordestinos após a eleição de Dilma. Num artigo na Folha, Janaina apontou o culpado: Lula, que separa “o Brasil em Norte e Sul. É ele quem faz questão de cindir o povo brasileiro em pobres e ricos”.
Numa entrevista à BBC Brasil, ela declarou que “seu compromisso é com Deus”. Seria mais simples e adequado se fosse com a coitada da justiça.